sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Desertificação

            O presente trabalho primeiramente abordará o conceito de desertificação definido pela Agenda 21 na Conferência do Rio em 1992 para depois analisar mais profundamente as causas e conseqüências da desertificação tendo em vista que ela ocorre em mais de 100 países sendo considerada um problema global.
Mais adiante abordará o caso específico do Brasil onde o processo de desertificação já ocorre em vários estados da federação, citando o caso emblemático do semi-árido nordestino, que já possui quatro núcleos de desertificação com o objetivo de traçar um perfil do problema no Brasil para que se possa interferir de forma eficaz principalmente através de políticas públicas que visem à exploração adequada da Região Semi-Árida.
As áreas desertificadas brasileiras apresentam características geoclimáticas e ecológicas, as quais contribuíram para que o processo fosse acelerado sendo que diversas regiões brasileiras padecem deste problema, entre elas a Região Semi-árida, sendo que as áreas susceptíveis à desertificação e enquadradas no escopo de aplicação da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação são aquelas de clima árido, semi-árido e sub-úmido seco.
Tal trabalho se faz necessário pelo fato do problema da desertificação requerer uma política governamental séria e atuante tendo em vista que no mundo a região semi-árida ocupa uma área de 20 milhões de quilômetros quadrados, espalhados por 49 países dos cinco continentes e que representam 55% das terras agriculturáveis do planeta.

TERMINOLOGIA DO CONCEITO DE DESERTIFICAÇÃO

É o termo que se aplica "a degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas". Nesse contexto preciso, “terras” incluem a superfície da terra, o solo e os recursos hídricos locais e a vegetação ou as plantações (colheitas). A desertificação tem sido identificada como uma série de processos que afetam as terras secas de todo o mundo. Estes processos incluem a erosão pela água e o vento, junto com as sedimentações produzidas por ambos agentes, a diminuição a longo prazo da diversidade da vegetação natural e a salinização.
Cabe dizer que a desertificação foi o primeiro problema ambiental a ser considerado de caráter global, reconhecimento que foi formalizado na Conferência sobre Desertificação das Nações Unidas (ONU), realizada em Nairóbi em 1977. Nessa ocasião foi elaborado um mapa dos desertos, no qual a Espanha foi o único país da Europa Ocidental representado, com alto índice de desertificação em todo o sudeste espanhol. Foi então, também, quando ficou claro que as ameaças de desertificação no Brasil não se limitavam ao semi-árido do Nordeste, mas incluíam regiões férteis, tais como porções dos estados do Rio Grande do Sul e Goiás.
Muitos desertos surgem devido às condições atmosféricas. As massas de ar quente criam duas faixas contínuas de desertos, uma ao longo do Trópico de Câncer e outra ao longo do Trópico de Capricórnio. Outros desertos resultam dos efeitos ocasionados pelas correntes oceânicas nas massas de terra, onde as massas de ar frio dão origem a névoas e nevoeiros, com exceção de algumas precipitações nas regiões costeiras.
DISCUSSÃO CONCEITUAL

A discussão conceitual sobre desertificação evoluiu durante os anos 80 e se consolidou no documento discutido e aprovado durante a Conferência do Rio em 1992, a Agenda 21.
A Agenda 21, em seu capítulo 12, definiu a desertificação como sendo "a degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades humanas", sendo que, por "degradação da terra" se entende a degradação dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação e a redução da qualidade de vida das populações afetadas. Ainda durante a Rio-92, vários países com problemas de desertificação propuseram à Assembléia Geral que aprovasse a negociação de uma Convenção Internacional sobre o tema. A Assembléia Geral aprovou a negociação da Convenção, que foi realizada a partir de janeiro de 1993 e finalizada em 17 de junho de 1994, data que se transformou no Dia Mundial de Luta contra a Desertificação.
A Convenção Internacional de Combate à Desertificação, que já foi assinada por mais de 100 países, já está em vigor desde 26 de dezembro de 1996, após a ratificação de mais de 50 países e sua implementação se dará através dos Anexos de Aplicação Regional, dentre os quais se destaca aquele dedicado à América Latina e Caribe.

CAUSAS DA DESERTIFICAÇÃO

A desertificação é a degradação das terras secas. Este processo consiste na perda da produtividade biológica e econômica das terras agrícolas, das pastagens e das áreas de matas nativas devido às variabilidades climáticas e às atividades humanas. As terras secas se adaptam às variações climáticas. Por definição, as regiões semi-áridas têm fortes limitações de água doce. As precipitações podem variar consideravelmente ao longo do ano e períodos de seca prolongada podem durar vários anos. Isto fez com que houvesse uma adaptação da flora e fauna à disponibilidade de água e umidade nessas regiões. O crescimento da população e da densidade populacional contribui para a exploração dos recursos naturais para além de sua capacidade de suporte. O aumento da população, assim como das demandas por alimentos, energia e outros recursos naturais vêm provocando importantes impactos na base de recursos naturais das regiões semi-áridas. Inadequação dos sistemas produtivos e formas inadequadas de manejo da terra vêm provocando degradação dos solos, da vegetação e da biodiversidade. O desmatamento, que além de comprometer a biodiversidade, deixa os solos descobertos e expostos à erosão, ocorre como resultado das atividades econômicas, seja para fins de agricultura de sequeiro ou irrigada, seja para a pecuária, quando a vegetação nativa é substituída por pasto, seja diretamente para o uso da madeira como fonte de energia (lenha e carvão).
O uso intensivo do solo, sem descanso e sem técnicas de conservação, provoca erosão e compromete a produtividade, repercutindo diretamente na situação econômica do agricultor. A cada ano, a colheita diminui, e também a possibilidade de ter reservas de alimento para o período de estiagem. É comum verificar-se, no semi-árido, a atividade da pecuária ser desenvolvida sem considerar a capacidade de suporte da região, o que pressiona tanto o pasto nativo como plantado, além de tornar o solo endurecido, compacto.
A irrigação mal conduzida provoca a salinização dos solos, inviabilizando algumas áreas e perímetros irrigados do semi-árido, o problema tem sido provocado tanto pelo tipo de sistema de irrigação, muitas vezes inadequado às características do solo, quanto, principalmente, pela maneira como a atividade é executada, fazendo mais uma molhação do que irrigando.
Além de serem correlacionados, esses problemas desencadeiam outros, de extrema gravidade para a região. É o caso do assoreamento de cursos d'água e reservatórios, provocado pela erosão, que por sua vez, é desencadeada pelo desmatamento e por atividades econômicas desenvolvidas sem cuidados com o meio ambiente.

CONSEQUÊNCIAS DA DESERTIFICAÇÃO

A degradação das terras secas causa sérios problemas econômicos. Isto se verifica principalmente no setor agrícola, com o comprometimento da produção de alimentos. Além do enorme prejuízo causado pela quebra de safras e diminuição da produção, existe o custo quase incalculável de recuperação da capacidade produtiva de extensas áreas agrícolas e da extinção de espécies nativas, algumas com alto valor econômico e outras que podem vir a ser aproveitadas na agropecuária, inclusive no melhoramento genético, ou nas indústrias farmacêutica, química e outras. Os problemas sociais estão intimamente relacionados aos custos econômicos. Segundo estimativas das Nações Unidas, uma dieta nutricionalmente adequada para a crescente população mundial implica a triplicação da produção de alimentos ao longo dos próximos 50 anos, meta difícil de alcançar mesmo sob condições favoráveis.
Dentro desta perspectiva pode-se esperar um agravamento significativo no quadro de desnutrição, falência econômica, baixo nível educacional e concentração de renda e poder que já existem tradicionalmente em muitas áreas propensas à desertificação nos países pobres ou em desenvolvimento. Sob essas condições vivem milhões de pessoas com pouca chance de se enquadrar em uma economia cada vez mais moderna e globalizada. A falta de perspectivas leva a população à migrar para os centros urbanos. Procurando condições mais favoráveis de sobrevivência, estes migrantes tendem a agravar os problemas de infra-estrutura (transporte, saneamento, abastecimento, entre outros) já existentes nos centros urbanos. Verifica-se também um aumento nos níveis de desemprego e violência urbana. A desertificação agrava o desequilíbrio regional. Nas regiões mais pobres do planeta, existe uma grande lacuna a ser preenchida quanto ao desenvolvimento econômico e social entre as áreas susceptíveis ou em processo de desertificação e as áreas mais desenvolvidas. Outro obstáculo a superar é a ação política tradicional, baseada na exploração das populações mais fragilizadas.
Os mercados internacionais podem estimular a sobre-exploração dos recursos. A recente integração das economias das regiões semi-áridas aos mercados nacionais e internacionais vem estimulando uma maior exploração dos recursos para atender às crescentes demandas.

As conseqüências da desertificação podem ser de:
 Natureza ambiental e climática: Como perda de biodiversidade (flora e fauna), a perda de solos por erosão, a diminuição da disponibilidade de recursos hídricos, resultado tanto dos fatores climáticos adversos quando do mau uso e a perda da capacidade produtiva dos solos em razão da baixa umidade provocada, também, pelo manejo inadequado da cobertura vegetal.
Natureza social: Abandono das terras por partes das populações mais pobres, a diminuição da qualidade de vida e aumento da mortalidade infantil, a diminuição da expectativa de vida da população e a desestruturação das famílias como unidades produtivas. Acrescente-se, também, o crescimento da pobreza urbana devido às migrações, a desorganização das cidades, o aumento da poluição e problemas ambientais urbanos.
Natureza econômica: Destacam-se a queda na produtividade e produção agrícolas, a diminuição da renda do consumo das populações, dificuldade de manter uma oferta de produtos agrícolas de maneira constante, de modo a atender os mercados regional e nacional, sobretudo a agricultura de sequeiro que é mais dependente dos fatores climáticos.
Natureza político institucional: Há uma perda da capacidade produtiva do Estado, sobretudo no meio rural, que repercute diretamente na arrecadação de impostos e na circulação da renda e, por outro lado, criam-se novas demandas sociais que extrapolam a capacidade do Estado de atendê-las.

DESERTIFICAÇÃO NO BRASIL

As áreas susceptíveis à desertificação e enquadradas no escopo de aplicação da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação são aquelas de clima árido, semi-árido e sub-úmido seco. Conforme a definição aceita internacionalmente, o Índice de Aridez, definido como a razão entre a Precipitação e a Evapotranspiração Potencial, estabelece as seguintes classes climáticas:
Este índice foi utilizado para o estabelecimento das áreas de risco e para a elaboração do Atlas Mundial da Desertificação, publicado pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e que serve como parâmetro em todo o mundo. No Brasil as áreas susceptíveis estão localizadas principalmente na região Nordeste e no Norte de Minas Gerais.
O mapa da susceptibilidade do Brasil, elaborado pelo MMA (Ministério do Meio Ambiente) a partir de trabalho realizado pelo Centro de Sensoriamento Remoto do IBAMA, determinou três categorias de susceptibilidade: Alta, Muito Alta e Moderada. As duas primeiras referem-se respectivamente às áreas áridas e semi-áridas definidas pelo índice de aridez. A terceira é resultado da diferença entre a área do Polígono das Secas e as demais categorias. Assim, de um total de 980.711,58 km2 de áreas susceptíveis, 238.644,47 km2 são de susceptibilidade Muito Alta, 384.029,71 km2 são de susceptibilidade Alta e 358.037,40 km2 são moderadamente susceptíveis.
O processo de desertificação se manifesta de duas maneiras diferentes: i) difusa no território, abrangendo diferentes níveis de degradação dos solos, da vegetação e dos recursos hídricos; ii) concentrada em pequenas porções do território, porém com intensa degradação dos recursos da terra. Os estudos disponíveis indicam que a área afetada de forma Muito Grave é de 98.595 km2, 10% do semi-árido e as áreas afetadas de forma Grave atingem 81.870 km2, 8% do território. Deve-se acrescentar que as demais áreas sujeitas ao antropismo, 393.897 km2, sofrem degradação Moderada. Além destas áreas com níveis de degradação difusos, podem ser citadas 4 áreas com intensa degradação, segundo a literatura especializada, os chamados Núcleos de Desertificação. São eles: Gilbués-PI, Irauçuba-CE, Seridó-RN e Cabrobó-PE, totalizando uma área de 18.743,5 km2. O desenvolvimento das atividades de preparação do Plano Nacional de Combate à Desertificação - PNCD leva em consideração estes dois níveis de ocorrência do fenômeno, sendo que as ações requeridas para cada um deles serão de naturezas diferentes com planejamento e execução próprias para cada situação.

ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES

Deserto: região de clima árido; a evaporação potencial é maior que a precipitação média anual. Caracteriza-se por apresentar solos ressequidos; cobertura vegetal esparsa, presença de xerófilas e plantas temporárias.
Deserto específico: a desertificação já se manifesta em grau máximo.
Desertificação: origina-se pela intensa pressão exercida por atividades humanas sobre ecossistemas frágeis, cuja capacidade de regeneração é baixa.
Processo de desertificação: diz respeito à atividade predatória que irá conduzir a formação de desertos.
Área de desertificação: é a área onde o fenômeno já se manifesta.
Área propensa à desertificação: área onde a fragilidade do ecossistema favorece o processo de instalação da desertificação.

As causas mais freqüentes da desertificação estão associadas ao uso inadequado do solo e da água no desenvolvimento de atividades agropecuárias, na mineração, na irrigação mal planejada e no desmatamento indiscriminado.
Os principais problemas são: desmatamento resultante da pecuária extensiva e do uso de madeira para fins energéticos, salinização dos solos decorrente do manejo inadequado na agricultura e no pastoreio, precário sistema de difusão tecnológica, baixa produção científica e tecnológica para as necessidades do semi-árido e a gestão municipal sem planejamento e comprometimento com objetivos a longo prazo.
A desertificação ocorre em mais de 100 países do mundo. Por isso é considerada um problema global. No Brasil existem quatro áreas, que são chamadas núcleos de desertificação, onde é intensa a degradação. Elas somam 18,7 mil km² e se localizam nos municípios de Gilbués, no Piauí; Seridó, no Rio Grande do Norte; Irauçuba, no Ceará e Cabrobó, em Pernambuco. As regiões áridas, semi-áridas e subúmidas secas, também chamadas de terras secas, ocupam mais de 37% de toda a superfície do planeta, abrigando mais de 1 bilhão de pessoas, ou seja, 1/6 da população mundial, cujos indicadores são de baixo nível de renda, baixo padrão tecnológico, baixo nível de escolaridade e ingestão de proteínas abaixo dos níveis aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde - OMS. Mas a sua evolução ocorre em cada lugar de modo específico e apresenta dinâmicas influenciadas por esses lugares.
As regiões sul-americana e caribenha têm inúmeros países com expressivas áreas de seus territórios com problemas de desertificação. Os mais significativos são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Cuba, Peru e México.
As áreas desertificadas brasileiras apresentam características geoclimáticas e ecológicas, as quais contribuíram para que o processo fosse acelerado. Diversas regiões brasileiras padecem deste problema, como por exemplo: O Semi-árido: Sua área total é de aproximadamente 1.150.662 Km² o que corresponde a 74,30% da superfície nordestina e 13,52% do Brasil.  Bahia: Com 9,3% da superfície estadual (52,5 mil Km²) em processo de desertificação. Localiza-se na margem direita do Rio São Francisco abrangendo o sertão de Paulo Afonso.  Pernambuco: Dados (Sema 1986) mostram que cerca de 25 mil Km² (25%) do estado estão tomados pela desertificação atingindo os municípios de Itacombira, Cabrobó, Salgueiro e Parnamirim.  Piauí: Cerca de 1.241 Km² da área piauiense encontram-se em acelerado processo de desertificação, exemplo deste fenômeno pode ser visto na região de Chapadas do Vale do Gurgéia, município de Gilbués.  Sergipe: Estão em processo de desertificação no Sergipe cerca de 223 Km².  Rio Grande do Norte: Representa 40% do estado tomado pela desertificação; a intensiva extração de argila e a retirada da cobertura vegetal para a obtenção de lenha para as olarias aceleram ainda mais o processo.  Ceará: A área desertificada corresponde a 1.451 Km² no município de Irauçuba.  Paraíba: A região do semi-árido é a mais propensa ao processo de desertificação, principalmente onde os solos são utilizados de maneira irracional. A desertificação atinge cerca de 27.750 Km² (49,2%), abrangendo 68 municípios.  Amazônia: Também apresenta áreas em processo de savanização decorrentes de desmatamentos indiscriminados.  Rondônia: Corre grande risco de início do processo de desertificação; várias áreas são desmatadas para fins agrícolas e ocupação indiscriminada do solo.  Paraná: Apresenta problemas de degradação nas áreas de ocorrência do arenito Caiuá; a agricultura é praticada sem haver uma preocupação com o manejo e a conservação do solo, problema acentuado pela devastação de florestas nativas.  Mato Grosso do Sul: processo ocorre principalmente na região sudoeste do estado, área de ocorrência do Arenito Caiuá, apresentando aspectos avançados de degradação (50 mil hectares).  São Paulo: dados da SEMA de 1986 já identificavam que, aproximadamente 70% das áreas agriculturáveis do estado estavam tomadas por intenso processo erosivo.  Rio Grande do Sul: a sudoeste do estado como os municípios de Alegrete, São Francisco de Assis, Santana do Livramento, Rosário do Sul, Uruguaiana, Quaraí, Santiago e Cacequí são atingidos pela desertificação. Outras áreas passíveis de degradação estão presentes no sul-riograndense, em especial onde predominam os solos originários do Arenito Botucatu; faz-se necessário um estudo de capacidade de uso, conservação e manejo para que tais áreas não iniciem rapidamente o processo de degradação. Minas Gerais: de acordo com estudos realizados, 12.862 Km² estão propensos à desertificação, sendo divididos em 3 áreas:  I - engloba as bacias dos rios Abaeté, Borrachudo e Indaiá na região centro-oeste do estado (11.446 Km²). II - ocorre na bacia do rio Gorotuba, região centro-norte ocupando 42 Km² de área. III - localizada nas bacias dos Médios e Baixos São Pedro e São Domingos compreendendo 1.375 Km² de área.                                                                                                          

CONCLUSÃO

O processo de desertificação verificado no Brasil tem um contribuinte significativo da exploração antrópica com suas formas inadequadas de exploração dos solos principalmente em áreas sensíveis como é o caso do Semi-árido nordestino em que o clima, a vegetação esparsa típica da região e a pouca proteção dos solos requerem um cuidado especial no manejo do solo. O caso emblemático do semi-árido nordestino tem um fator climatológico importante pela existência de um regime pluviométrico irregular que delimita duas estações bem distintas: uma curta estação chuvosa de 3 a 5 meses, denominada de inverno, que ocorre no primeiro semestre do ano, e uma longa estação seca chamada verão, que tem duração de 7 a 9 meses, podendo-se alongar nos anos de seca por 18 meses ou mais.
Diante de tudo o que foi abordado, conclui-se que o processo de desertificação está associado a inúmeros fatores, como ambientais, sócio-econômico e institucionais e que se faz urgente um política séria dos órgãos competentes para o combate ou minimização do processo de desertificação haja visto que a recuperação de uma área desertificada é muito mais complexo e às vezes irremediável. Paralelamente a esta política é imprescindível ações, tanto do poder público como da sociedade de conscientização para se combater a erosão, a salinização, o desmatamento tendo em vista que já são verificados quatro núcleos de desertificação no Nordeste. São eles: Gilbués-PI, Irauçuba-CE, Seridó-RN e Cabrobó-PE, totalizando uma área de 18.743,5 km2.

FONTES CONSULTADAS

DESERTIFICAÇÃO: ENCICLOPÉDIA ENCARTA.
DESERTIFICAÇÃO: Disponível em: <http://www.iicadesertification.org.br/>. Acessado em 27/10/2007.
CAVALCANTI, E. Para Compreender a Desertificação: Uma abordagem didática e integrada. Instituto Desert. Julho de 2001.
BENEDITO, VASCONCELOS MENDES. Alternativas tecnológicas para a agropecuária do Semi-Árido. Nobel, 2ª Edição, 1986.

sábado, 20 de novembro de 2010

Concepções do Conceito de Região

Região Natural
(Determinismo Ambiental)

Características da concepção do conceito de Região
A Região Natural é entendida como uma parte da superfície da Terra, dimensionada segundo escalas territoriais diversificadas e caracterizada pela uniformidade resultante da combinação dos elementos da natureza, como o clima, o relevo, a vegetação, a geologia e outros adicionais que diferenciariam ainda mais cada uma destas partes.

Uma Região Natural é um ecossistema onde seus elementos acham-se integrados e são interagentes.

Avaliação: uma análise sintética
Foi o determinismo ambiental o primeiro paradigma a caracterizar a geografia que emerge no final do século XIX, com a passagem do capitalismo concorrencial para uma fase monopolista e imperialista;
O determinismo ambiental justificava a expansão territorial através da criação de colônias de exploração no continente africano, e de povoamento em regiões temperadas, a serem ocupadas pelo excedente demográfico britânico e europeu.
As condições naturais, especialmente as climáticas, e dentro delas a variação de temperatura ao longo das estações do ano, determinam o comportamento do homem, interferindo na sua capacidade de progredir;
Estabeleceu-se uma relação causal entre o comportamento humano e a natureza, na qual esta aparece como elemento de determinação.
No projeto de expansão alemã, Ratzel desenvolveu o conceito de espaço vital, quer dizer, o território que representaria o equilíbrio entre a população ali residente e os recursos disponíveis para as suas necessidades, definindo e relacionando, deste modo as possibilidades de progresso e as demandas territoriais.
As regiões Naturais propostas constituem uma base para estudos sistemáticos para compreender as relações homem/natureza.
O clima aparece em Herbertson, Dryer e outros como o elemento fundamental da natureza.

No Brasil o conceito de região natural foi introduzido via influência francesa, por Delgado de Carvalho em 1913.


Região Geográfica
(Possibilismo)

Características da concepção do conceito de Região
A Região Geográfica abrange uma paisagem e sua extensão territorial, onde se entrelaçam de modo harmonioso componentes humanos e da natureza.

A Região Geográfica é considerada uma entidade concreta, palpável, um dado com vida, supondo, portanto uma evolução e um estágio de equilíbrio.
Neste raciocínio, chegar-se-ia a conclusão de que uma região poderia desaparecer. Sendo assim, o papel do geógrafo é o de reconhecê-la, descrevê-la e explicá-la, isto é, tornar claros seus limites.
O que importa é na região haja uma combinação específica da diversidade, uma paisagem que acabe conferindo singularidade aquela região, ou seja, onde o geógrafo evidenciava a individualidade da região, sua personalidade, aquela combinação de fenômenos naturais e humanos que não se repetiria.

Região e paisagem são conceitos equivalentes ou associados, podendo-se igualar, na geografia possibilista, geografia regional ao estudo da paisagem.

Avaliação: uma análise sintética
O Possibilismo francês na sua origem, opõe-se ao determinismo ambiental germânico. Neste contexto a geografia francesa teria que cumprir simultaneamente vários papéis:
a) Desmascarar o expansionismo germânico, criticando o conceito de espaço vital, sem, no entanto inviabilizar intelectualmente o colonialismo francês;
b) Abolir qualquer forma de determinação, da natureza ou não, adotando a idéia de que a ação humana é marcada pela contingência;
c) Enfatizar a fixidez das obras do homem, criadas através de um longo processo de transformação da natureza.
Vidal de la Blache redefine o conceito de gênero de vida sendo, pois um acervo de técnicas, hábitos, usos e costumes, que lhe permitiram utilizar os recursos naturais disponíveis.

No Brasil a aplicabilidade do conceito de região geográfica se deu na medida em que formaram bases territoriais agregadas cujos resultados foram divulgados no recenseamento de 1950 e 1960.


Estudos de Área
(Método Regional)

Características da concepção do conceito de Região
A região para Hartshorne, não passa de uma área mostrando a sua unicidade, resultado de uma integração de natureza única de fenômenos heterogêneos.

No método regional a diferenciação de áreas não é vista a partir das relações entre o homem e a natureza, mas sim da integração de fenômenos heterogêneos em uma dada porção da superfície terrestre.

Foco no método, no estudo de áreas e por último a diferenciação de áreas passa a ser o objeto da geografia.

Avaliação: uma análise sintética
O método regional consiste no terceiro paradigma da geografia, opondo-se ao determinismo ambiental e ao possibilismo.
As contribuições do método regional para o conceito de região são muito limitadas.
No plano externo, o método regional evidencia a necessidade de produzir uma geografia regional, ou seja, um conhecimento sintético sobre diferentes áreas da superfície da Terra.
No plano interno registra a procura de uma identidade para a geografia, que se obteria não a partir de um objeto próprio, mas através de um método exclusivo, a diferenciação de áreas passa a se considerar o resultado do método geográfico e, simultaneamente, o objeto da geografia.


Classes de Área
(Nova Geografia)

Características da concepção do conceito de Região
Região definida como um conjunto de lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são menores que as existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares.

Geografia conhecida como teorética ou geografia quantitativa.

Fundamento no positivismo  lógico (analogia com as ciências naturais).

Utilização de técnicas estatísticas descritivas como o desvio padrão, o coeficiente de variação e a análise de agrupamento.

Divisão Regional concebida com objetividade máxima, implicando a ausência de subjetividade por parte do pesquisador.

A região não é considerada uma entidade concreta e sim uma criação intelectual balizada por propósitos especificados, tal como aponta Grigg.
Avaliação: uma análise sintética
Tem um papel ideológico a ser cumprido, é preciso justificar a expansão capitalista, escamotear as transformações que afetaram os gêneros de vida e paisagens solidamente estabelecidas, assim como dar esperanças aos “deserdados da terra”.
Calcada em uma abordagem locacional: o espaço alterado resulta de um agregado de decisões locacionais.
Na ampla possibilidade de aparecimento de divisão regional, existem dois enfoques que não se excluem mutuamente: O primeiro considera Região como simples ou complexa, onde simples é a divisão regional de acordo com um único critério ou variável, e a região complexa levam em conta muitos critérios ou variáveis (reduzida a umas poucas através da análise fatorial) como, por exemplo, a densidade demográfica, para definir uma dada região especificada. O segundo enfoque visa às regiões homogêneas ou funcionais, onde homogêneas referem-se à unidade agregada de áreas descritas pela análise de características sem movimento no tempo e espaço, e as funcionais definidas de acordo com o movimento de pessoas, mercadorias e decisões e idéias sobre a superfície da terra.
Calcada explicitamente nos princípios da classificação, várias classes de área organizam-se em um sistema classificatório, tal sistema pode ser concebido de dois modos:
- Divisão lógica (dedutiva): procedimento de trajetória descendente procura diferenciações;
- Agrupamento (indutiva): procedimento de trajetória ascendente procura regularidades.

No Brasil a Nova Geografia desenvolveu-se nos departamentos de Geografia de Rio Claro e de estudos Geográficos do IBGE.


Região ou áreas diferenciadas
(Geografia Crítica)

Características da concepção do conceito de Região
Considera-se o conceito de região e o tema regional sob uma articulação dos modos de produção.

Região é considerada uma entidade concreta, resultado de múltiplas determinações, ou seja, da efetivação dos mecanismos de regionalização sobre um quadro territorial já previamente ocupado, caracterizado por uma natureza já transformada, heranças culturais e materiais e determinada estrutura social e seus conflitos.  Ou em outras palavras, é a realização de um processo geral, universal, em um quadro territorial menor, onde se combinam o geral, o modo dominante de produção, o capitalismo, elemento uniformizador, e o particular, as determinações já efetivadas, elemento de diferenciação.

Para Duarte região é uma dimensão espacial das especificidades sociais em uma totalidade espaço-social, ainda afirma que regiões são espaços em que existe uma sociedade que realmente dirige e organiza aquele espaço.

Avaliação: uma análise sintética
A nova Geografia e os paradigmas tradicionais são submetidos a severa crítica por parte de uma geografia nascida de novas circunstâncias que passam a caracterizar o capitalismo.
O vetor mais significativo é aquele calcado no materialismo histórico e na dialética marxista;
Teve a função não só de contestar o pensamento dominante, mas também a intenção de participar de um processo de transformação da sociedade verificado nos países de capitalismo avançado o agravamento de tensões sociais;
O tema da região, questão clássica na história do pensamento geográfico, é retomado pela geografia crítica. Neste sentido, uma tentativa de conceituação de região será feita procurando entendê-la por uma visão dialética.
Foi aplicada a Lei do desenvolvimento desigual e combinado como forma de inserir o conceito de região dentro de um quadro teórico amplo, que permita dar conta da diversidade da superfície da Terra sob a ação humana ao longo do tempo.

No Brasil a geografia crítica nasce no final da década de 70, cujo marco foi o 3º Encontro Nacional de Geógrafos realizado em julho de 1978 em Fortaleza.


Região de planejamento
(território de ação e controle)

Características da concepção do conceito de Região
Ao defenir uma região para fins de ação e controle considera-se alternativamente: o conceito de região natural, o de região geográfica, e uma área vista por um aspecto ao qual se atribui relevância, como uma determinada produção. Pode ainda, na realidade, abranger uma combinação das alternativas mencionadas. Assim as diferentes conceituações de região estão presentes na prática territorial das classes dominantes.

Avaliação: uma análise sintética
A ação e controle sobre uma determinada área quer garantir, em última análise, a reprodução da sociedade de classes, com uma dominante, que se localiza fora ou no interior da área submetida a divisão regional, esta aceitação explícita ou  implícita da diferenciação de áreas ao longo da história. A sua ratificação ou retificação se dá a cada momento, conforme os interesses e os conflitos dominantes de cada época.
A região de planejamento, isto é, um território de ação e controle, tem seu apogeu nas décadas de 60 e 70. Este é o caso brasileiro: entre 1964 e 1977/78, sobretudo, numerosos estudos almejando a definição de regiões de planejamento foram realizados, seja a nível federal e macrorregional, seja a nível estadual.

Fonte Consultada:

CORRÊA, Roberto Lobato.  Região e Organização do Espaço. Editora Ática, São Paulo, 1987 – Série Princípio.

sábado, 30 de outubro de 2010

Floresta Amazônica

A Amazônia é a maior floresta tropical úmida do mundo com uma área aproximada de 4,5 milhões de km2 (Sioli, 1990), abrangendo no território brasileiro os estados do Amazonas, Pará, Acre, Roraima, Amapá, Rondônia, norte do Mato Grosso e oeste do Maranhão. Além do Brasil a Floresta Amazônica se estende pelos países vizinhos da Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia e Peru.
            A Amazônia está localizada no norte da América do Sul, sendo esta região cortada pelo rio Amazonas, que nasce no Peru, na Cordilheira dos Andes e deságua no oceano Atlântico, depois de cruzar todo o norte do país, tendo aproximadamente 6.570 km de comprimento(Ab’Saber, 2005). A região abriga o sistema fluvial mais extenso e de maior massa líquida da Terra, formando a Bacia Amazônica, que tem uma área calculada em mais de 7 milhões de km2  (Sioli, 1990).
            No domínio Amazônico predominam temperaturas médias anuais de 26 a 27 ºC, ocorrendo chuvas, em geral, superiores a 1700 mm, alcançando até 3500 mm, perfazendo uma precipitação média de 2500 mm ao ano. Ligado a tais condições climáticas, baseada na associação entre calor e umidade, foi possível gerar e preservar o grande contínuo de florestas e diversidade biológica, que se estende do nordeste do Pará aos sopés dos Andes, dos arredores da Serra dos Carajás às encostas do Pico da Neblina e serras ocidentais de Roraima (Sioli, 1990).
            O fator importante para a formação e manutenção da floresta amazônica é o regime pluvial, sendo a Amazônia uma região de chuvas abundantes e bem distribuídas o ano todo, devido a sua posição geográfica de clima equatorial, quente e úmido, além da densa rede de rios, propiciando o surgimento da floresta (Sioli, 1990).
            Segundo estudos, aproximadamente a metade da água da chuva caída na Amazônia retorna, por evaporação, diretamente a atmosfera, onde novamente se condensa e volta a cair (Sioli, 1990, Apud Salati et ali).
            Mas para se entender as condições atuais da Amazônia é preciso saber como elas se originaram, qual a história geológica que condicionou esta região. Um dos fatores responsáveis pela origem da Floresta Amazônica foi o soerguimento da Cordilheira dos Andes que bloqueou o escoamento do sistema fluvial amazônico, que naquela época, corria para o oceano Pacífico (Sioli, 1990).
            Na era Paleozóica a depressão amazônica estava coberta pelo mar formando um grande golfo aberto para o pacífico onde foram deixados sedimentos marinhos de vários períodos, chegando a 3.000 metros de espessura (Sioli, 1990).
            Após, houve uma regressão marinha e durante toda a Era Mezosóica a Baixada Amazônica era terra emersa, sendo que os rios que drenavam esta região corriam para o Pacífico, correndo, o canal fluvial principal em sentido contrário ao atual (Sioli, 1990).
            Foi então na Era Cenozóica que os Andes começaram a soerguer-se, passando a bloquear o escoamento do sistema fluvial amazônico para o oceano Pacífico represando as águas fazendo com que toda a depressão amazônica transformar-se em uma paisagem alagada formada por rios e lagos, ocorrendo a partir daí a formação de toda a Baixada Amazônica com sedimentos de água doce, que atingindo até 300 metros de espessura constituem as camadas da chamada formação Barreiras ou Alter do Chão (Sioli, 1990).
            Por fim, as massas de água acabaram fluindo para leste, formando-se o atual sistema fluvial do Amazonas, que a partir de então passou a desaguar no oceano Atlântico e o solo sedimentar da paisagem anterior, gerado na água, ficou a seco, cobrindo-se com a floresta (Sioli, 1990).
            A Floresta Amazônica é, portanto, resultante da história geológica e do clima, abrigando o sistema fluvial mais extenso e de maior massa líquida da terra, sendo coberta pela maior floresta pluvial tropical. A Floresta Amazônica se desenvolveu em uma planície, cuja rede hidrográfica drena esta região através dos vários rios, que se originam tanto no planalto Central como no planalto das Guianas e também nos Andes, tributários do Rio Amazonas que deságua todo este volume d’água no oceano Atlântico. É delimitada ao norte pelo maciço das Guianas e ao sul pelo maciço do Brasil Central, a oeste pela jovem Cordilheira dos Andes, ficando aberta a leste, permitindo aí a franca entrada dos ventos alísios (Sioli, 1990).
            O relevo Amazônico apresenta uma área de planície, com atitude de até 100 metros apenas ao longo do baixo Amazonas, constituída de sedimentos recentes resultantes da deposição de aluviões transportados pelos rios. A partir do distanciamento das margens do "grande rio" até cerca de 500 metros de altitude, ocorrem às depressões, com inclinações suaves, resultantes do trabalho de erosão sobre rochas de origem cristalinas ou sedimentares. Nos extremos Norte e Sul, encontramos os planaltos das Guianas e do Brasil Central, com altitudes variando entre 500 a 900 m, formados por terrenos cristalinos, constituindo áreas onduladas, (Sioli, 1990).
            A vegetação caracteriza-se de acordo com os três níveis topográficos da Amazônia, por três diferentes matas: de igapó, várzea e terra firme. A mata de igapó corresponde à parte da floresta em que o solo se encontra inundado, tendo como exemplo a vitória-régia. A mata de várzea é própria das regiões inundadas periodicamente, denominadas terraços fluviais ou planície aluvial de 20 a 100 km de largura. As matas de terra firme se localizam na parte mais elevada do relevo amazônico, livre de inundação (Sioli, 1990).
            Quanto à formação florestal, a Amazônia parece ser uma paisagem homogênea, mas não é, sendo que podemos distinguir dois tipos, a Floresta Ombrófila Densa, com vegetação fechada, úmida devido à luz solar não chegar ao solo, estando ligada a fatores climáticos tropicais de elevadas temperaturas (médias de 25ºC) e de alta precipitação, bem distribuída durante o ano com  0 a 60 dias secos. Esta floresta está presente por toda a planície amazônica (Veloso et ali, 1991).
            Já a Floresta Ombrófila Aberta circunda a parte sul da Bacia Amazônica e ocorre em inúmeros agrupamentos separados, situados nas partes norte e leste da Floresta Amazônica, apresentando quatro faciações florísticas que alteram a fisionomia ecológica da Floresta Ombrófila Densa, sendo a floresta de palmeiras, a floresta de bambu, a floresta de sororoca e a floresta de cipó, onde as copas das árvores geralmente não ficam tão próximas umas das outras, o que permite a passagem dos raios solares imprimindo-lhe claros, além de gradientes climáticos com mais de 60 dias secos por ano (Veloso et ali, 1991).
            Os terrenos areníticos do Período Terciário são em geral revestidos por comunidades florestais, com palmeiras por toda a Amazônia e com Bambu na parte ocidental, já as comunidades com sororocas e com cipó revestem preferencialmente as depressões do embasamento pré-cambriano e encostas do relevo dissecado dos planaltos que envolvem o grande vale amazônico (Veloso et ali, 1991).
            Nos Estados do Piauí e Maranhão a floresta de palmeiras pode ser considerada como uma floresta de babaçu revestindo terrenos areníticos do Cretáceo, na bacia do Maranhão-Piauí. A floresta aberta com bambu encontra-se distribuída principalmente nos Estados do Amazonas e do Acre, sendo que o gênero Guada invadiu recentemente sobre o dobramento pré-andino do Cretáceo. A floresta de cipó, que era mais expressiva no sul do estado do Pará, principalmente nas depressões circulares do Pré-Cambriano, encontra-se distribuída por toda a Amazônia. A floresta aberta com sororoca é quase exclusiva da bacia do rio Xingu, sendo a menos representativa (Veloso et ali, 1991).

Fontes Consultadas

AB’SABER, Aziz Nacib. Os Domínios de Natureza no Brasil – Potencialidades paisagísticas. Ed. Ateliê Editorial, São Paulo, 2005.

SIOLI, H. Amazônia – Fundamentos de Ecologia da maior região de florestas tropicais. 2ª edição, Ed. Vozes, Petrópolis, 1990.

VELOSO, H. P.; RANGEL FILHO, A. L. R.; LIMA, A. J. C. Classificação da Vegetação Brasileira Adaptada a um sistema Universal. IBGE/Dpto. de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. Rio de janeiro, 1991.

domingo, 24 de outubro de 2010

Resenha Bibliográfica: O CONCEITO DE ESPAÇO RURAL EM QUESTÃO

IDENTIFICAÇÃO DA REFERÊNCIA

Título: O conceito de espaço rural em questão
Autora: Marta Inez Medeiros Marques


RESUMO

1. Apresentação

A diminuição das desigualdades sociais passa necessariamente pela valorização do campo, mas no Brasil o que se vê é um projeto de desenvolvimento rural voltado para expansão e consolidação do agronegócio, que embora gere divisas via exportação implica custos sociais e ambientais crescentes. A estratégia de desenvolvimento do campo deve priorizar o desenvolvimento social, mas que não se restrinja a uma perspectiva econômica, aumentando ainda mais as desigualdades, como pode ser evidenciado pelo avanço dos movimentos sociais no campo. É preciso uma política eficaz de fixação do homem no campo valorizando as atividades primárias tendo em vista que a pobreza atinge 39% da população rural e sendo identificado no meio rural os menores índices de escolaridade concentrando hoje os mais baixos níveis de renda média evidenciando o descaso do governo para com o homem do campo.

2. A nossa definição oficial de espaço urbano e rural

No Brasil adota-se o critério político-administrativo e considera-se urbano toda sede de município (cidade) e distrito (vila). O espaço urbano caracteriza-se por construções, arruamentos e intensa ocupação humana, além das áreas afetadas pelo desenvolvimento urbano bem como as reservadas a expansão urbana. Além disso, o urbano e o rural são definidos pelo arbítrio dos poderes municipais influenciado por seus interesses fiscais. Veiga (2002) discorda do critério de urbanização utilizado no Brasil e sugere o uso combinado de três critérios para se evitar uma ilusão imposta pela atual norma legal: o tamanho populacional do município, sua densidade demográfica e sua localização. Desta forma, 30% da população brasileira seriam essencialmente rurais. Pra esta análise é preciso considerar a relação entre espaços mais urbanizados e espaços onde os ecossistemas permanecem menos artificializados, ou seja, espaços rurais, para a definição de uma estratégia realista. Veiga procura defender a viabilidade econômica do espaço rural como trunfo econômico desses espaços o seu patrimônio cultural e natural, além das amenidades (ar puro, belas paisagens) enfatizando o dinamismo encontrado nos países desenvolvidos preocupando-se demasiadamente este autor em transformar o espaço rural em objeto do consumo não problematizando os aspectos sociais. Alentejano analisa a urbanização do campo com base na proliferação de atividades não agrícolas neste espaço como o turismo e prestação de serviços que não deixam de ser atividades rurais tendo em vista a dependência associada à terra.

3. Sobre critérios e definições, em questão a perspectiva dicotômica

O rural e o urbano são comumente definidos a partir de suas diferenças, ou seja, sob uma perspectiva dicotômica. Os principais critérios utilizados oficialmente são:
a) discriminação a partir de um patamar populacional;
b) a predominância da atividade agrícola;
c) delimitação político-administrativa.
De uma maneira geral, as definições elaboradas sobre o campo e a cidade podem ter duas abordagens:
A dicotômica: o campo pensado como meio social distinto da cidade se referindo as características de ordem econômica, espacial, social e cultural a partir de 8 traços principais:
- atividades desenvolvidas;
- dependência da natureza;
- tamanho das populações;
- densidade populacional;
- diferenças na homogeneidade e heterogeneidade das populações;
- complexidade social;
- diferenças na mobilidade social;
- direção da migração.
E a continuum: idéia de continuum rural-urbano, ou seja, maior integração entre cidade e campo, com a modernização desde e a destruição de formas arcaicas, admite-se, pois diferenças de intensidade e não de contraste entre estes dois espaços, em relação aos quais não haveria uma distinção nítida, mas uma diversidade de níveis que vão desde a metrópole até o campo no outro extremo, que analisado atentamente também se apóia numa concepção dual, pois consideram o rural e o urbano como pontos extremos numa escala de gradação.

4. A alienação do modo de vida urbano e a idealização da ruralidade

Para Willians a cidade se tornou o símbolo do capitalismo, embora o campo também tivesse sido influenciado e as relações entre cidade e campo tivessem se transformado. Só que no tocante ao campo o homem passou a valorizá-lo a partir de sua paisagem natural, objeto do consumo dessa nova sociedade capitalista. A divisão e oposição entre cidade e campo, indústria e agricultura, em suas formas modernas, correspondem à culminação do processo de divisão e especialização do trabalho que, com o capitalismo, foi desenvolvido a um grau extraordinário. O autor nos convida a superarmos tal divisão que estaria na base do processo de alienação e nos tornaria seres divididos. A imagem idealizada do campo corresponderia, assim, a uma reação crítica a forma alienada das relações sociais dominantes.
               
5. A relação cidade-campo

Para Marx, “A oposição entre a cidade e o campo começa com a transição da barbárie a civilização, da organização tribal ao estado, da localidade a nação e persiste através de toda história da civilização até nossos dias”. Já para Lefebvre a Razão teve na cidade seu lugar de nascimento contrapondo a cidade a ruralidade e a vida camponesa cheia de forças obscuras. Segundo Lefebvre são identificadas três eras:
Era agrária: nas sociedades agrárias as cidades arcaicas eram, sobretudo cidades políticas que organizavam o meio rural sendo dominada por este. O campo produzia e a cidade consumia.
Na Idade Média Européia, o surgimento das cidades relaciona-se com as seguintes funções: cidadela ou palácio, santuário e mercado. Neste período a separação entre cidade e campo pode ser entendida como separação entre capital e propriedade da terra, o passo seguinte foi a separação entre produção e comércio. A produção agrícola deixa de ser a principal atividade e a riqueza deixa de ser sobretudo imobiliária. A cidade passa a ser o lócus da produção e a controlar o sistema da produção no campo completando a vitória da cidade sobre o campo. Os fundamentos da riqueza não mais se reduzem a propriedade da terra, mas se estende ao trabalho e a troca.
A cidade industrial passa a gerar grande concentração urbana, apresentando extensos bairros proletários e abrigando população expulsas do campo. O movimento urbano associado ao processo de industrialização é responsável pelo surgimento de novas atividades econômicas para estruturar a circulação de mercadorias e para organizar e administrar todos os sistemas relacionados as atividades econômicas.
Por outro lado, a partir do final do século XX, com a saturação da cidade, a natureza transforma-se no “gueto dos lazeres”, o espaço do campo passa a ser colonizado pelos urbanos e a integrar o modo de vida deles. Nesta perspectiva, abre-se uma discussão sobre um novo rural para que se possa repensar o urbano e neste sentido não concebendo o campo apenas como complemento da cidade, tampouco paisagem a ser consumida, mas lugar de oportunidades para o momento em que estamos vivendo com  a superpopulação das cidades e a queda da qualidade de vida, a saturação do mercado de trabalho, sendo visível através dos movimentos sociais.

6. Considerações finais

Na França e Estados Unidos vêm ocorrendo um processo de revalorização do campo muito mais intenso que no Brasil, observado por uma nova divisão social do trabalho bem distantes da produção agrícola como o ecoturismo, o turismo de aventura, entre outras relacionadas a prestação de serviços dinamizando o campo e diversificando suas atividades.


COMENTÁRIO

O texto faz uma análise do espaço rural levando em conta o papel das cidades tendo em vista que os dois espaços, o rural e o urbano, só podem ser entendidos e analisados conjuntamente, pois fazem parte de uma totalidade indissociável onde a cidade é a paisagem construída pelo homem, que embora desenvolva atividades não relacionadas diretamente com a natureza necessita das matérias primas fornecidas por esta e não obstante fornece os insumos e equipamentos necessários para a realização das atividades agrícolas, sobretudo com a modernização da agricultura a partir da metade do século XX. O espaço rural foi tema de análise de diversos estudiosos que tinham como preocupação o estudo do fenômeno rural, sua definição, modernização sofrida nos últimos tempos com a absorção de tecnologias desenvolvidas pelas indústrias e até mesmo a tendência verificada com a valorização dos espaços rurais para o desenvolvimento de atividades diversas daquelas tradicionalmente desenvolvidas como, por exemplo, o turismo rural (de lazer e aventura) e outros serviços relacionados a este meio, enfim a satisfação das necessidades dos cidadãos urbanos que buscam pelas amenidades típicas das áreas rurais. Tal fenômeno é mais avançado nos países desenvolvidos como os estados Unidos e França onde existe inclusive um fluxo de pessoas das cidades para o campo em busca de novas oportunidades ou de uma melhor qualidade de vida. No tocante ao fenômeno rural não podemos esquecer dos movimentos sociais que vêm ocorrendo no campo, sobretudo por demonstrar os impactos sociais provocados pelo capitalismo que embora tenha a cidade como o maior reflexo, desenvolve-se no meio rural com a mudança nas relações de trabalho e na divisão social do trabalho. Nota-se, porém que a divisão social é mais evidente que a divisão social do trabalho entre campo e cidade. Neste movimento verifica-se tanto a recriação de práticas e tradições rurais em espaços liminares nas periferias das cidades, quanto a adoção de valores e padrões de consumo urbanos no campo. A sociedade tal como se estrutura atualmente coloca o campo como subordinado a cidade e as políticas governamentais sempre priorizaram um desenvolvimento setorial e não territorial que integrasse os dois espaços. Surge a necessidade da construção de um novo rural que passa pelo acesso à cidadania de toda a população rurais sendo pontos importantes para que isto ocorra, a emergência das classes subalternas no campo como sujeito políticos, reconhecimento da capacidade dos segmentos rurais de formular suas próprias alternativas de desenvolvimento e ampliação do acesso à informação pelas classes subalternas rurais para que estas possam se situar no mundo criticamente. Com base nisso, a sociedade têm gestado algumas alternativas surgindo novas experiências de luta no campo, nas quais os movimentos sociais têm buscado formas para permanecer na terra afirmando sua territorialidade. Esses novos movimentos sociais em geral propõem novas formas de organização social, ou seja, novas formas de produzir e existir coletiva e socialmente.



Lazer Virtual

     Com base no texto lido e apresentado em sala “Na Metrópole” onde é feita uma análise antropológica do papel do lazer na vida das pessoas como elemento de grande importância na construção da rede social foi desenvolvido este artigo referente ao lazer virtual muito difundido na sociedade contemporânea. Vale lembrar que o autor considera o lazer não como uma válvula de escape como o capital previa para o descanso do trabalhador, mas algo que socializa a massa e onde realmente são tecidas as relações sociais e onde o ser humano pode realmente falar sua língua, porém um imperativo moderno vem limitando esse tempo ao oferecer um novo tipo de lazer que conduz o homem a uma individualização.
     Atualmente o que se presencia no bojo da sociedade é um novo tipo de lazer ligado ao entretenimento virtual onde as pessoas passam horas plugadas/ligadas a procura de diversão e prazer demonstrando a individualização do ser humano e sua aversão ao mundo exterior. O avanço da tecnologia na área de informática permitiu ao homem uma gama de serviços e lazer on-line onde basta possuir um microcomputador com modem e uma linha telefônica para ter acesso aos mais diferentes tipos de serviços e opções de lazer ao alcance das mãos e no conforto de sua casa.
     Entre as opções de lazer virtual disponíveis está a Internet que permite ao usuário navegar pelos mais diferentes sites de entretenimento para assistir filmes, ouvir músicas, os canais de bate-papo, o Orkut, uma espécie de álbum digital onde o usuário pode colocar suas fotos preferidas e seus dados pessoais, além dos jogos on-line. O usuário ao desfrutar do lazer proporcionado pelo mundo digital não compartilha mais os equipamentos coletivos como uma praça onde as pessoas se reúnem para conversar, um café, deixando de realizar experiências significativas e que realmente valem a pena. Claro que não é pretensão dessa afirmativa dizer que o lazer virtual põe em risco o lazer tradicional, apenas conclui que as pessoas dedicam seu curto tempo de folga com este tipo de lazer talvez por comodidade, economia ou até mesmo por esse espaço ser mais receptivo e atraente, estando descansado para o dia seguinte de trabalho.
     Se voltarmos no tempo veremos que o rádio já ocupou seu lugar como lazer ao transmitir músicas, jogos de futebol, radionovelas e notícias, depois vindo a televisão colocando imagem e movimento nas velhas programações do rádio, atraindo ainda mais espectadores. Mais o computador conseguiu reunir tudo em único aparelho colocando inclusive trabalho e lazer no mesmo espaço bastando um clique na tela para a pessoa escolher entre trabalho e lazer.
     A tradicional dicotomia entre trabalho e lazer na era da informática parece não ocupar mais equipamentos diferentes como outrora, e se a função do lazer tradicional é unir a do virtual é individualizar e empobrecer culturalmente o ser humano visto que ele executa o mínimo de ícones possíveis e o programa já apresenta os resultados esperados, além do que ele não precisa nem pensar, nem ao menos refletir, pois cada idéia se encontra em um lugar sem haver choques entre elas, ao contrário de uma conversa que há opiniões divergentes e que a pessoa precisa exercitar sua argumentação e assim cumpre-se a função do capital que é a alienação do trabalhador.

Resenha sobre o filme: Cidade: da Aldeia a Megalópole

Pela primeira vez na história há mais pessoas vivendo nas cidades do que no campo. É com esta afirmativa que inicia o filme demonstrando o peso das cidades na atualidade e como as pessoas se tornam cada vez mais urbanas ou dependentes da sociedade urbano-industrial.
O filme traça a evolução das cidades desde a Antiguidade como é o caso da cidade localizada entre o Rio Tigre e Eufrates na Mesopotâmia formada há 5000 anos, da cidade de Roma ou a que se localizava na atual cidade do México até os dias atuais com o auge do desenvolvimento urbano, as Megalópoles.
As cidades antigamente surgiam por três razões: por confluência de rotas comerciais, por sediar um Reino ou pelo relevo propício.
Já se referindo as cidades contemporâneas à primeira perspectiva apontada em relação é sua identidade, algo particular que cada cidade carrega seja pela sua história, forma característica ou função desempenhada seja a nível local, regional, nacional ou mundial.
Outra perspectiva é a da cidade escondida e sua infra-estrutura subterrânea, onde é citado o exemplo da megalópole londrina onde sob as ruas de Londres passam inúmeros cabos de eletricidade, telefone, fibra ótica, canalização de água, gás, tubulação de esgoto, e por fim a linha de metrô.
É elucidado que quando um londrino abre a torneira não pensa na infra-estrutura necessária para levar água até a sua residência ou quando aciona o interruptor o fabuloso sistema elétrico operante, tampouco quando aciona a descarga aonde vai parar os dejetos eliminados.
                A este respeito o principal problema enfrentado pela cidade de Londres foi o destino de seus dejetos primeiramente sendo despejado em cursos de água como o Rio Tâmisa provocando uma epidemia de cólera. Para contornar o problema o esgoto passou a ser tratado com a utilização de produtos químicos diminuindo o efeito da cólera e tornando o rio um caldeirão tóxico. Por último criou-se a estação de tratamento totalmente orgânica revitalizando o Rio Tâmisa. Há pelo menos 50 anos não se vê esgoto no rio Tâmisa.
Em outro momento o filme revela que a superpopulação ou aglomerações urbanas sempre foi fator de geração de pestes no decorrer da história, com a Revolução Industrial as cidades passaram a crescer absurdamente atraindo grande contingente populacional. Não há dúvida que a Revolução Agrícola é que possibilitou o desligamento de parte da população para outras atividades tipicamente urbanas iniciando o crescimento das cidades com o desenvolvimento do artesanato, mas a política industrial de expulsão dos camponeses para formar o exército de operários necessário ao desenvolvimento da indústria alavancou o crescimento das cidades, com isso a cidade passou a ser mais do que nunca o centro da vida humana.

O caso de Portland

                Nos Estados Unidos com o crescimento das cidades houve grande investimento na rede de transportes com o incentivo ao uso do veículo particular por ser do interesse da indústria automobilística e de toda a rede de serviços vinculadas a este ramo. O trânsito se tornou um caos principalmente nos centros urbanos, foram criadas auto-estradas por todo o país para facilitar o deslocamento dos veículos. Portland seguiu um outro paradigma, o uso do transporte coletivo, o prefeito na época enfrentou várias resistências, mas por fim provou que esse era o caminho mais indicado.

O caso de Brasília

                Brasília foi uma cidade planejada com o propósito de mudar a capital para o centro do país e desenvolver desta forma o interior pouco habitado até então. Brasília foi o exemplo da forma que superou a função com sua infra-estrutura urbana altamente planejada não pensou no seu uso pelo homem. Ela foi construída no formato de um avião totalmente dividido por setores, o setor residencial para os burocratas, o de diversão, o bancário, o setor das tomadas de decisões e assim por diante. O plano piloto previa ainda as cidades satélites, mas aponta que embora sem infra-estrutura as favelas se tornaram mais humanas do ponto de vista da forma do que Brasília.

Resenha Bibliográfica: CAPITALISMO E URBANIZAÇÃO

IDENTIFICAÇÃO DA REFERÊNCIA

Título: Capitalismo e Urbanização
Autora: Maria Encarnação Beltrão Spósito
Editora: Contexto, 2000, São Paulo, 10ª edição.
Coleção: Repensando a Geografia


IDÉIAS PRINCIPAIS

1. A Urbanização Pré-Capitalista

A realização de um resgate histórico nos períodos Paleolítico, Mesolítico e Neolítico para entender a formação das aldeias, forma embrionária das cidades.

Fatores necessários para a existência das cidades: embutida na origem da cidade há uma outra diferenciação, a social: ela exige uma complexidade de organização social só possível com a divisão do trabalho.

As condições necessárias para a constituição da cidade:
- Criação de instituições sociais;
- Uma relação de dominação e de exploração;
- Uma sociedade de classes.

As cidades na Antiguidade: A explicação para a origem do urbano está no social e no político.

O papel dos impérios na Urbanização, a cidade como centro de poder.

O Feudalismo e desestruturação da rede urbana, um retrocesso na urbanização que vinha se processando.

2. A Urbanização sob o Capitalismo

O Renascimento Urbano e a conformação da urbanização sob o modo de produção capitalista (Capitalismo Mercantil).

A cidade como espaço de suma importância, e a urbanização como processo expressivo e extenso a nível mundial a partir do capitalismo.

O processo de retomada da urbanização, do renascimento das cidades, foi possível pela reativação do comércio, enquanto atividade econômica urbana. Ao se desenvolver, esse comércio foi criando as condições para a estruturação do modo de produção capitalista e, simultaneamente, a destruição dos pilares da economia feudal (o latifúndio, sua economia fechada e a servidão).

O papel dos Estados Nacionais Absolutistas (a urbanização moderna): Grande reforço do processo de urbanização. Este reforço decorreu do fim do monopólio feudal sobre a produção alimentar e do fim do monopólio sobre a produção manufatureira, estimulando as manufaturas e enfraquecendo as corporações de ofício que limitava a produção. Além do mais a formação dos Estados Nacionais Absolutistas permitiu o adensamento populacional na medida em que o aparato político-administrativo que dava amparo ao Estado propiciou o aparecimento de uma burocracia numerosa e a formação de exércitos permanentes.


3. Industrialização e urbanização

Capitalismo Industrial ou Concorrencial: Foi grande o impulso tomado pela urbanização a partir do pleno desenvolvimento da industrialização, pois a cidade era efetivamente o espaço de produção.

A emergência do trabalho assalariado, a última fase para o pleno desenvolvimento do capitalismo.

A Revolução industrial e o desenvolvimento da maquinofatura, o papel preponderante da indústria na economia e na produção das riquezas.

Os problemas urbanos decorrentes da industrialização e da livre iniciativa que o Estado só passaria a controlar mais tarde com a dominação do caos e do comprometimento dos interesses capitalistas.

4. Urbanização e Capitalismo Monopolista

A cidade é particularmente o lugar onde se reúnem as melhores condições para o desenvolvimento do capitalismo. O seu caráter de concentração, de densidade viabiliza a realização com maior rapidez do ciclo do capital, ou seja, diminui o tempo entre o primeiro investimento necessário a realização de uma determinada produção e o consumo do produto.

A deslocalização-desdobramento-internacionalização do capital (multinacionalização das empresas), articulação entre os lugares a nível não apenas regional ou nacional, mas agora transnacional.

A produção das cidades e o desenvolvimento desigual como reflexo desta fase do capitalismo, ao mesmo tempo em que o capital homogeneíza a aparência das cidades ele diversifica as suas funções através da divisão do trabalho, ou seja, a sua essência.

O papel das Metrópoles na reprodução capitalista.


COMENTÁRIO

1.  A Urbanização Pré-Capitalista

Já durante o paleolítico o homem embora não tivesse moradia fixa passou a se relacionar com o lugar através de encontros e cerimônias. No mesolítico ele já se sedentarizou cultivando plantas e domesticando animais na chamada revolução agrícola. No neolítico foi marcado pela vida mais estável nas aldeias. Então cabe ressaltar que no neolítico já havia realizado a primeira condição para o surgimento das cidades faltando a segunda que é a organização social mais complexa com a divisão do trabalho. O excedente de alimentos é a condição necessária para a divisão do trabalho desligando parte da população da produção agrícola e se dedicando desta forma a outras atividades originando as cidades além de uma segunda condição que é a criação de instituições sociais, uma relação de dominação e exploração além de uma sociedade de classes, revelando a participação diferenciada dos homens no processo de produção, distribuição e apropriação de riquezas. As cidades na antiguidade já demonstravam um caráter urbano e sua explicação está no social e no político, pois além de sediar a estrutura administrativa, possuíam uma divisão do trabalho, que se traduzia na constituição de uma estrutura de classes. Os Impérios tiveram papel importante na urbanização da Europa porque aumentaram o número de cidades para manterem a supremacia militar, através de sua ampliação estenderam o urbano pela Europa provocando transformações econômicas, sociais e políticas, além de acentuarem a divisão social do trabalho e a complexidade da organização política necessária a sustentação do Império provocando a ampliação dos papéis urbanos e o aumento do relacionamento entre as cidades. Com a queda do Império Romano houve um declínio no processo de urbanização ocorrendo uma desestruturação da rede urbana que havia se desenvolvido sob a hegemonia do poder político centralizado. Os pontos que marcaram a organização social e a urbanização na Antiguidade foram: a divisão social do trabalho e a formação da sociedade de classes, as cidades cumpriam o papel de espaço de dominação política e sede de instituições, aumento das cidades pela capacidade de produção devido ao desenvolvimento técnico alcançado, o desenvolvimento da escrita importante na dominação política e social. A Idade Média foi marcada por uma nova organização econômica, social e política com o enfraquecimento do papel das cidades e o esfacelamento do poder central com o fim do comércio de longa distância devido ao controle dos árabes sobre o Mediterrâneo, imprimindo de vez o caráter agrário a Europa Ocidental. No feudalismo a terra passa a ser a única fonte de subsistência e de condição de riqueza, a economia exclusivamente agrícola e intrafeudo esvaziou definitivamente o urbano de seu papel econômico e político.

2.  A Urbanização Sob o Capitalismo

A cidade nunca fora um espaço tão importante e nem a urbanização um processo tão expressivo e extenso a nível mundial como a partir do Capitalismo justamente por ser a sede das manufaturas e do comércio e onde são realizadas as atividades adiministrativas que dão suporte ao seu desenvolvimento. No decorrer dos séculos X e XI houve a reabertura dos portos europeus, antes sob o controle árabe dando um grande salto no comércio e na produção de manufaturas. Com o renascimento comercial houve o crescimento e a complexificação da estrutura urbana. O comércio enquanto atividade urbana, além de retomar a urbanização, foi criando as condições para a estruturação do modo de produção capitalista e simultaneamente a destruição dos pilares da economia feudal. Foi nesta primeira fase do desenvolvimento do novo modo de produção que ocorreu a acumulação primitiva do capital imprescindível para o desenvolvimento mais tarde do capitalismo industrial. Porém para o desenvolvimento do comércio a burguesia comercial se viu entre duas barreiras, por um lado à organização corporativista dos artesãos que limitava a produção de mercadorias e por outro o monopólio sobre o excedente alimentar pela aristocracia feudal. Para solucionar este problema a burguesia passou a organizar no campo outra produção artesanal para dar conta da demanda, os comerciantes passaram a fornecer matérias-primas e ferramentas as famílias camponesas liberadas corroendo desta forma o sistema servil. A organização no campo foi possível, pois a regulamentação corporativa se restringia a área urbana. Em resumo, o que se deu a partir da manufatura foi a especialização e o aprofundamento da divisão do trabalho e os primeiros passos para a emergência do trabalho assalariado. A aliança da burguesia com o rei permitiu a formação dos Estados Nacionais Absolutistas que possibilitou o desenvolvimento da urbanização com o fim do monopólio feudal sobre o excedente alimentar transformando a terra em mercadoria que era por vezes arrendada ou vendidas, além de expandir a produção de manufaturas com o fim das leis que protegiam as corporações. Com a formação dos Estados Nacionais permitiu-se o adensamento populacional pela formação de uma burocracia estatal e a formação de exércitos permanentes, além da formação da corte, de instituições e do desenvolvimento do artesanato de luxo e das artes. Os Estados Nacionais empreenderam também as grandes navegações marítimas dando reforço a economia mercantil muito importante para o processo de urbanização além de estender a urbanização ao mundo colonial a partir do século XV. A cidade mercantil era também o espaço de dominação e gestão do modo de produção, de exercício do poder, e fornecedora de serviços além de assumir o caráter produtivo sendo o lugar de produção de mercadorias.

3. Industrialização e Urbanização

A urbanização antecede a industrialização, embora esta tenha colaborado decisivamente para o desenvolvimento urbano, a cidade desta forma passou a ser um espaço efetivamente de produção. A expressão industrialização usada correntemente trata-se, pois de um processo bem mais amplo do que a mera transformação de matérias-primas em mercadorias se referindo a transformação mais radicais tanto de ordem social, quanto econômica e política. Dado o caráter urbano da produção industrial (produção esta totalmente diferenciada das atividades produtivas que se desenvolvem de forma extensiva no campo, como a agricultura e a pecuária) as cidades de tornaram sua base territorial, já que nelas se concentram capital e força de trabalho. Na primeira etapa do capitalismo ele fora denominado capitalismo comercial passando posteriormente a denominar-se capitalismo industrial, mas para entender como este capitalismo se desenvolveu é fundamental apreender como se dá a emergência do trabalho assalariado: No começo a produção artesanal era doméstica sendo o artesão proprietário dos meios de produção e realizando todas as fases da produção, num segundo momento surgiram as corporações de ofício para proteger os interesses dos produtores, posteriormente os artesãos passaram a receber encomendas sendo fornecido a eles as matérias-primas e as ferramentas e recebendo um valor determinado par isso. Desta forma o trabalho assalariado entra em processo de gestação. A partir da segunda metade do século XVII, aperfeiçoaram-se os instrumentos de produção. As ferramentas e algumas máquinas (ainda que movidas pela energia humana) melhoram e tornaram-se mais caras, o que acabou por fortalecer o controle da produção, por parte daqueles que tinham capital acumulado e podiam fazer frente a estes investimentos. As transformações que colaboraram para o trabalho assalariado: o fim das terras comuns para pastagens, elevação das taxas de arrendamento em decorrência da transformação definitiva da terra em mercadoria, ou seja, em fonte de renda, o aumento das taxas de crescimento populacional também permitiu o a ampliação do contingente de expropriados. O início da industrialização entendida aqui como traço da sociedade contemporânea, como principal atividade econômica e principal forma através da qual a sociedade se apropriava da natureza e a transformava marcou de forma profunda e revolucionou o próprio processo de urbanização. Foi grande o impulso tomado pela urbanização a partir do pleno desenvolvimento da industrialização, certamente essa urbanização correspondeu a movimentos migratórios campo-cidade, decorrentes de mudanças estruturais no campo nos séculos anteriores, face ao desenvolvimento capitalista, que deu as cidades uma capacidade produtiva maior. As cidades comerciais demonstraram ser um bom lugar para o desenvolvimento industrial, a indústria absorve os centros urbanos já importantes nos fins do século XVII e durante o século XIX predominantemente em alguns setores como, por exemplo, os da indústria gráfica e de papel, ambas já desenvolvidas de forma artesanal nas grandes cidades comerciais. Contudo houve no mesmo período, uma tendência a localização industrial fora das cidades, principalmente em setores como o da metalurgia, cujo interesse era grande em estar próximo as fontes energia. A divisão territorial do trabalho tornou-se efetiva e possível a partir do desenvolvimento das comunicações dos transportes permitindo a circulação de pessoas e mercadorias dando suporte ao sistema capitalista. Um dos resultados concretos da articulação entre os lugares que permitiu a constituição da rede urbana, foi a interdependência entre as cidades, que provocou, ao longo do tempo, a subordinação de umas as outras, ao que se deu o nome de hierarquia urbana. Os centros urbanos passaram a sediar as indústrias atraindo uma massa de trabalhadores que passaram a morar no centro em casarões antigos que eram divididos por várias famílias transformando-se em cortiços sem a mínima higiene, esses casarões foram abandonados pelas elites que procuram na periferia um lugar de amenidades e qualidade de vida provocando a separação espacial das classes sociais dentro das cidades. O liberalismo, como referencial ideológico, a livre concorrência e a iniciativa privada sem intervenção do poder público, como princípios de conduta, e a busca de reprodução do capital a todo custo, transformaram especialmente as cidades inglesas do século XIX em espaços caóticos. Esta desordem não pode perdurar por muito tempo porque começou a incomodar até mesmo os mais ricos. O Estado passou a interferir no planejamento das cidades estabelecendo regulamentos e executando obras.

4. Urbanização e Capitalismo Monopolista

A medida que o desenvolvimento técnico e o capital investido em um determinado setor industrial tornavam-se maiores, permitiam que os capitalistas e/ou países que contavam com largas fatias do mercado reforçassem suas posições e inviabilizassem a entrada de outros capitalistas e/ou países nesta concorrência. Com a deslocalização-desdobramento-internacionalização do capital a produção diferenciada entre as regiões/países provoca um desenvolvimento desigual entre estes lugares, embora articulado entre si, que se manifesta numa urbanização com estes mesmos traços. A produção capitalista homogeneíza as paisagens e os hábitos no tocante a aparência não confundindo a homogeneização dos lugares, ou seja, a essência. A produção espacial como manifestação clara do capitalismo avançado traduz-se em pelo menos três formas diferentes: a primeira é a existência de grandes unidades de produção e consumo, o resultado é a descentralização espacial das unidades de produção. A segunda é a ampliação da massa de assalariados acompanhada de uma diversificação de níveis de hierarquização no próprio interior da categoria social concretizando no urbano na diferenciação dos padrões de habitação. Em terceiro o capitalismo precisa de uma concentração do poder político, e cria as condições para a formação de uma tecnocracia, apoiada na “competência” dos especialistas, que a nível das cidades produz uma planificação urbana sem particularismos, os programas nacionais. O crescimento urbano acelerado devido às taxas de crescimento natural e migração rural-urbana manifestam-se na formação de uma rede urbana marcada por uma superconcentração populacional e de investimentos capitalistas nos maiores aglomerados urbanos gerando a constituição de grandes metrópoles permitindo verificar o grau de supremacia populacional de algumas metrópoles como a área metropolitana de Montevidéu que na década de 70 concentrava 41,7 % da população ou a de São Paulo que na década de 80 concentrava 10,8 % da população, pois é na metrópole que se cria à infra-estrutura necessária a reprodução capitalista.