sábado, 1 de dezembro de 2012

Autoridade Nacional Palestiniana e Israel

Autoridade Nacional Palestiniana

A Autoridade Nacional Palestiniana ou Palestina  é uma instituição estatal semi-autónoma que governa nominalmente partes da Palestina, compreendendo as regiões da Cisjordânia e toda a Faixa de Gaza. Esses dois fragmentos do território original, foram estabelecida como parte dos acordos de Oslo entre a OLP e Israel. A Autoridade Palestiniana detém o controle sobre assuntos de segurança e civis nas áreas urbanas palestinianas (chamadas nos acordos de Oslo de "Área A"), e controle civil sobre as áreas rurais palestinianas ("Área B"). Após a assinatura dos Acordos de Oslo, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza foram divididas em áreas (A, B e C) e províncias (ou "governorates"). A área A refere-se à área sob segurança e controle civil da ANP. A área B, refere-se a área sob controle militar de Israel e controle civil palestino. A área C refere-se à área sob total controle israelense, como assentamentos. Desde a Batalha de Gaza (2007) a maior parte da Faixa de Gaza está sob controle do Hamas, com a Autoridade Palestina afirmando que já não tem, oficialmente, o controle da Faixa de Gaza.

Mapa mostrando as províncias (ou "governorates") e área sob controle formal da ANP (área A e B em verde escuro).

A ANP divide os territórios palestinos em 16 províncias:
Província de Jenin
Província de Tubas
Província de Nablus
Província de Tulkarm
Província de Salfit
Província de Qalqilya
Província de Ramallah and al-Bireh
Província de Jericho
Província de Jerusalem
Província de Bethlehem
Província de Hebron
Província de North
Província de Gaza
Província de Deir el-Balah
Província de Khan Yunis
Província de Rafah

Faixa de Gaza

Faixa de Gaza  é um território palestino situado em uma faixa costeira de terra no Médio Oriente ao longo do Mar Mediterrâneo, que faz fronteira com o Egito no sul e é cercada pelo território de Israel a norte e leste. Tem cerca de 41 quilômetros de comprimento, e sua largura varia entre 6 e 10 km, com uma área total de 362 km², sendo um dos territórios mais densamente povoados do planeta, com 1,5 milhão de habitantes para uma área de 360 km², sem recursos naturais. A área sofre uma escassez crônica de água e praticamente não tem indústria. A infraestrutura é precária, e quase nada foi refeito após os bombardeios israelenses de 2008-2009. A situação econômica é de penúria. A designação "Faixa de Gaza" deriva do nome da sua principal cidade,Gaza, cuja existência remonta à Antiguidade. A Faixa de Gaza é reivindicada pela Autoridade Nacional Palestina como parte dos territórios palestinos. Em 2006, o partido Hamas venceu as eleições parlamentares palestinas. Desde junho de 2007, o partido assumiu efetivamente o controle da Faixa de Gaza, após confronto armado com o Fatah.

Cisjordânia

A Cisjordânia ou Margem Ocidental é um território sob ocupação de Israel, reclamado pela Autoridade Palestiniana e pela Jordânia, situado na margem ocidental do rio Jordão. É limitado a leste pela Jordânia e a norte, sul e oeste por Israel. Até 1948, integrava a parcela remanescente da Palestina histórica, a qual foi dividida em três partes: uma parte passou a integrar o Estado de Israel e as duas outras, Faixa de Gaza e a Cisjordânia, ambas de maioria árabo-palestina, deveriam integrar um Estado palestino, a ser criado conforme a Resolução 181 das Nações Unidas (1947), com a anuência da anterior potência colonial da zona, oReino Unido. Todavia, em 1967, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia foram ocupadas militarmente por Israel após a Guerra dos Seis Dias. Desde então e até 2009, Israel demoliu mais de 20 mil casas de cidadãos não-judeus. Posteriormente algumas porções dispersas dessas duas áreas passaram a ser administradas pela Autoridade Palestiniana, mas Israel mantém o controlo das fronteiras e está atualmente a construir um muro de separação, com 700 quilômetros de extensão, que, na prática, anexa porções significativas da Cisjordânia ocidental ao seu território. A construção do muro, iniciada em 2004, isolou 160 mil famílias palestinas.

Israel

Israel, oficialmente Estado de Israel, é uma república parlamentar localizada no Oriente Médio, ao longo da costa oriental do Mar Mediterrâneo. O país faz fronteira com o Líbano ao norte, com a Síria a nordeste, com a Jordânia e a Cisjordânia a leste, com o Egito e a Faixa de Gaza ao sudoeste, e com o Golfo de Aqaba, no Mar Vermelho, ao sul. Geograficamente, contém diversas características dentro de seu território relativamente pequeno. Israel é definido como um "Estado Judeu e Democrático" em suas Leis Básicas e é o único Estado de maioria judia do mundo. Após a adoção de uma resolução pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 29 de novembro de 1947, recomendando a adesão e implementação do Plano de Partilha da Palestina para substituir o Mandato Britânico, em 14 maio de 1948, David Ben-Gurion, o chefe-executivo da Organização Sionista Mundial e presidente da Agência Judaica para a Palestina,declarou o estabelecimento de um Estado Judeu em Eretz Israel, a ser conhecido como o Estado de Israel, uma entidade independente do controle britânico. As nações árabes vizinhas invadiram o recém-criado país no dia seguinte, em apoio aos árabes palestinos. Israel, desde então, travou várias guerras com os Estados árabes circundantes, no decurso das quais ocupou os territórios da Cisjordânia, Península do Sinai, Faixa de Gaza e Colinas de Golã. Partes dessas áreas ocupadas, incluindo Jerusalém Oriental, foram anexadas por Israel, mas a fronteira com a vizinha Cisjordânia ainda não foi definida de forma permanente. Israel assinou tratados de paz com Egito e Jordânia, porém os esforços para solucionar o conflito israelo-palestino até agora não resultaram em paz. O Estado de Israel está dividido em seis principais distritos administrativos, conhecido como mehozot (מחוזות; singular: mahoz) - Centro, Haifa, Jerusalém, Norte, Sul e Tel Aviv. Os distritos dividem-se em quinze subdistritos conhecidos como nafot (נפות; singular: ANPA), que são eles próprios divididos em cinquenta regiões naturais.


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki. Acesso em 01/12/2012.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Relevo terrestre e submarino


Relevo Terrestre

A superfície terrestre é composta por irregularidades e por isso apresenta-se de forma diferente em todo o planeta. Essas modificações são causadas especialmente pelos agentes modeladores do relevo que agem internamente (interior da Terra) ou externamente (fora do interior da Terra). O relevo pode ser definido como o conjunto de formas apresentadas na superfície terrestre. No mundo, existem diversos tipos de relevo, porém os principais são: as planícies, os planaltos, as depressões e as montanhas. As planícies correspondem às superfícies relativamente planas. Ocorrem fundamentalmente por meio de acumulação de sedimentos, sendo lugares desprovidos de grandes processos erosivos. Podem ser formadas quando há o acumulo de sedimentos, transportados por rios; nesse caso a planície é do tipo aluvial. Quando a planície é formada por sedimentos oriundos do transporte de águas marítimas, é denominada de planície do tipo costeira. Quando um lago é soterrado, a planície é denominada de lacustres. E, por fim, no caso de transporte de sedimentos por meio dos ventos, a planície é do tipo eólica. Os planaltos apresentam configuração de superfície ondulada ou topografia acidentada. Em áreas de relevo do tipo planalto, as altitudes não ultrapassam os 300 metros acima do nível do mar. A formação dos planaltos possui duas origens: sedimentar ou cristalina. Esse tipo de relevo passa por constantes processos erosivos. As depressões correspondem a um tipo de relevo que possui superfície localizada abaixo das áreas vizinhas ou ao redor. Existem dois tipos de depressão: absoluta ou relativa. As depressões do tipo absoluta são aquelas que estão abaixo do nível do mar, e as planícies relativas são aquelas que estão acima do nível do mar. As montanhas são elevações que apresentam grandes desníveis, vales profundos e cumes muito altos e altitudes, geralmente, superiores a 1000 metros. Os cumes podem terminar em forma de pico ou arredondados, consoante se tratem de montanhas mais recentes ou mais antigas, respectivamente.

Relevo Submarino

A superfície terrestre apresenta uma grande variedade de formas e irregularidades. Ao analisar o fundo dos oceanos também foi detectada uma diversidade de formas em sua composição. Com o desenvolvimento tecnológico alcançado durante a década de 1960, foi possível realizar análises aprofundadas do relevo submarino e estabelecer uma classificação de acordo com as diferentes formas apresentadas. O relevo submarino segue a seguinte divisão: Plataforma continental: É caracterizada por ser o prolongamento submerso dos continentes, com apenas algumas modificações promovidas pela erosão marinha ou por depósitos sedimentares. Apresenta profundidade entre 10 e 500 metros, no entanto, sua profundidade média é de 200 metros. Nesta parte do relevo submarino são obtidos os recursos minerais e é realizada a maior parte das atividades pesqueiras. Talude continental: É uma inclinação mais aprofundada que a plataforma, podendo atingir até 3 mil metros de profundidade. Bacia oceânica: Corresponde à maior superfície e se estende a partir do limite do talude continental até, aproximadamente, 5 mil metros de profundidade. É formada por extensas bacias. Dorsais: Constituem as grandes cordilheiras e acompanham, em certos casos, o contorno dos continentes. As dorsais encontradas nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico apresentam altitudes que variam entre 2 e 4 quilômetros acima do fundo oceânico, emergindo em diversos pontos sob a forma de ilhas e arquipélagos. Fossas abissais: As fossas abissais estão localizadas próximas aos continentes, e formam as regiões mais profundas do relevo submarino.

Fonte: http://www.mundoeducacao.com.br. (Autores: Eduardo de Freitas, Wagner de Cerqueira e Francisco). Acesso em 07/11/2012
http://www.aesap.edu.pt/Geografia. Acesso em 07/11/2012

O que é uma geleira?



É uma enorme massa de gelo formada pelo acúmulo de neve. Também conhecidas como glaciares, as geleiras demoram bastante tempo para se formar: algumas delas só ganham seu tamanho final depois de 30 mil anos! A maior geleira do mundo fica na Antártida, ocupando uma área de 14 milhões de km2, ou mais que um Brasil e meio. É lá que se concentram 90% do gelo do planeta - outros 6% estão na Groenlândia, 3% nas ilhas do Ártico e 1% nas montanhas frias do globo. As geleiras podem ocorrer em áreas planas próximas aos pólos ou na forma de imensos rios de gelo que avançam lentamente pelos vales - um bom exemplo desse último tipo é o glaciar Perito Moreno, que descarrega o gelo da Patagônia em um lago na Argentina. Essa capacidade de movimento, aliás, é uma característica de todas as geleiras. Elas nunca estão paradas: ou descem morro abaixo pela ação da gravidade ou se espalham pelo solo com a força de seu peso. No caminho por onde passam, as geleiras desgastam as rochas como se fossem uma lixa, com mais rapidez e força que a água, por exemplo. Quando chegam até mares e lagos, elas dão origem a plataformas de gelo de onde se desprendem os icebergs, que até derreterem por completo podem ficar mais de dez anos viajando na água. Por falar em água, você sabia que as geleiras concentram 75% de toda a água doce do planeta? Se essa imensa reserva degelasse da noite para o dia, o nível do mar subiria cerca de 60 metros, inundando praticamente todas as cidades costeiras.

Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br. Acesso em 07/11/2012

domingo, 4 de novembro de 2012

Ciberespaço, a ambiguidade do concreto e do abstrato

Por Marcelo Solé Wanderley - Geógrafo e aluno do curso Exclusão Digital e Ciberespaço da Fundação Cecierj


Estudar e conhecer as origens do ciberespaço e as consequências de sua existência é importante para compreendermos como espaço e sociedade estão organizados atualmente. O meio técnico-científico informacional é o requisito para a criação das redes técnicas de computadores (concreto), as quais, por meio de seus fluxos, geram o ciberespaço (abstrato). Essa distinção entre concreto e abstrato é apenas um recurso inicial para distinguir fixos de fluxos, pois o ciberespaço é composto, simultaneamente, de elementos concretos e abstratos. Entendemos o meio técnico-científico informacional como o período em que o homem não utiliza apenas o que a natureza disponibiliza, como no meio natural. Também não é apenas uma mecanização do território, como no meio técnico. Entendemos que as mudanças inferidas no território não são atribuídas apenas a máquinas, por mais modernas que elas sejam. O meio técnico-científico informacional vai além. Assim observou Milton Santos: "Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e informacionais, já que, graças à extrema intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles já surgem como informação; e, na verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação". Neste contexto, temos a formação das redes, que normalmente têm as suas definições divididas em duas matrizes: "a que apenas considera o seu aspecto, a sua realidade material, e uma outra, onde é também levado em conta o dado social". Concordamos que devemos estudar as redes considerando tanto a realidade material da rede (concreto) como o dado social (abstrato). Só assim, conseguiremos refletir o real significado das redes, pois elas apresentam uma infraestrutura, que contém, entre outros equipamentos, cabos submarinos e satélites. Mas a rede também é "[...] social e política, pelas pessoas, mensagens, valores que a frequentam. Sem isso, e a despeito da materialidade com que se impõe aos nossos sentidos, a rede é, na verdade, uma mera abstração".  Com a criação e a utilização da infraestrutura (os fixos), surgem as trocas de informação (os fluxos). Da interação entre fixos e fluxos, cria-se o ciberespaço, que é entendido como "[...] uma dimensão da sociedade em rede, onde os fluxos definem novas formas de relações sociais [...]. As relações sociais no ciberespaço, apesar de virtuais, tendem a repercutir ou concretizar-se no mundo real. Marca, portanto, um novo tipo de sociedade". O ciberespaço é muito mais do que computadores conectados. Ele necessita de que essa rede seja utilizada e gere fluxos. Sem isso, ele não existe. Ele traz em seu bojo muito mais do que a troca de informações por redes de computadores. Em virtude da velocidade com que essas trocas se efetuam, todo um paradigma e uma relação tempo/espaço são modificados. David Harvey,  em 1993, já nos alertava sobre essa mudança, chamada por ele de compressão espaço-temporal. Como explica a professora Michéle Tancman: a velocidade dos medias eletrônicos instaura uma nova forma de experienciar o tempo, substituindo a noção de tempo-duração por tempo-velocidade e a instantaneidade das relações sociais. O tempo permeado pelas novas tecnologias eletrônico-comunicacionais é marcado pela presentificação, ou seja, pela interatividade on-line, de fato constatado nas tecnologias de telepresença em tempo real que alteram nosso sentido cultural de tempo e espaço. O progresso da técnica observado no meio técnico-científico informacional, em conjunto com a compressão espaço/tempo e com o uso das redes pelos agentes capitalistas, modificou a sociedade até um ponto que temos de concordar com Manuel Castells, que diz ser a sociedade atual uma sociedade informacional, na qual a informação não é apenas utilizada (todas as sociedades a utilizam), mas sim "[...] o processamento e a transmissão da informação tornam-se as fontes fundamentais de produtividade e poder devido às novas condições tecnológicas surgidas nesse período histórico". O ciberespaço modifica a sociedade, o trabalho, o lazer e o relacionamento entre as pessoas. Uma reunião de trabalho não necessita de que os presentes estejam em uma mesma sala, pois agora existe a teleconferência. Adolescentes se reúnem para jogarWar (jogo da Grow, empresa de brinquedos especializada em jogos de tabuleiro) pela Internet. Provavelmente, eles jogam com pessoas que nem conhecem. Mas como o espaço é afetado e como afeta a sociedade na passagem de uma sociedade industrial para uma sociedade informacional? A transição, na década de 1970, do meio técnico para o meio técnico-científico informacional não pode ser vista apenas como desenvolvimento tecnológico. O entendimento das consequências dessa mudança é o que nos permite compreender as atuais relações do homem com o território e a ascensão da produção flexível em substituição ao modo fordista de produção. Essa transição modificou o território, que sofreu um processo de cientificização, tecnicização e informacionalização, conforme explica Milton Santos: "Os espaços assim requalificados atendem sobretudo aos interesses dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da política e são incorporados plenamente às novas correntes mundiais. O meio técnico-científico informacional é a cara geográfica da globalização". Neste momento, é interessante reforçarmos a noção de que as redes são a base física para o ciberespaço, e, em alguns trechos do nosso trabalho, rede e ciberespaço podem ser entendidos como sinônimos. Assim Milton Santos relaciona redes ou ciberespaço com espaço: As redes são a condição da globalização e a quintessência do meio técnico-científico informacional. Sua qualidade e quantidade distinguem as regiões e lugares, assegurando aos mais bem dotados uma posição relevante e deixando aos demais uma condição subordinada. São os nós dessas redes que presidem e vigiam as atividades mais características deste nosso mundo globalizado.  Essa dinâmica cria distorções e diferenciações no espaço, tanto nos países centrais como nos países periféricos. Áreas mais ou menos desenvolvidas ou espaços luminosos e espaços opacos são identificados deste modo: Chamaremos de espaços luminosos aqueles que mais acumulam densidades técnicas e informacionais, ficando assim mais aptos a atrair atividades com maior conteúdo em capital, tecnologia e organização. Por oposição, os subespaços onde tais características estão ausentes seriam os espaços opacos. Além das distorções entre países centrais e países periféricos, existe a distorção dentro dos próprios países, conforme observa Castells: Dentro dos países, há também grandes diferenças espaciais na difusão do uso da Internet. As áreas urbanas vêm em primeiro lugar, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, e as áreas rurais e as pequenas cidades ficam consideravelmente para trás em seu acesso ao novo meio [...]. O atraso na difusão da Internet em áreas rurais foi observado nos Estados Unidos, na Europa e, mais ainda, nos países em desenvolvimento. O meio técnico-científico informacional, como vimos, modificou e continua modificando o espaço e a sociedade. As redes e, consequentemente, o ciberespaço são uns dos grandes expoentes do meio técnico atual. Por isso, não podem ser desprezados ou ignorados em estudos sobre espaço, trabalho ou lazer. Se, como alguns estudiosos acreditam, a Geografia não deve ou não tem recursos teóricos para estudar o ciberespaço - embora não concordemos com isso -, é interessante reler um dos mais importantes geógrafos brasileiros: Cada vez que as condições gerais de realização da vida sobre a terra se modificam, ou a interpretação de fatos particulares concernentes à existência do homem e das coisas conhece evolução importante, todas as disciplinas científicas ficam obrigadas a realinhar-se para poder exprimir, em termos de presente e não mais de passado, aquela parcela de realidade total que lhes cabe explicar.

Fonte: http://www.educacaopublica.rj.gov.br. Acesso em 03/11/2012.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - CPLP


Integrada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, a CPLP foi estabelecida em julho de 1996, na I Conferência de Chefes de Estado e de Governo dos Países de Língua Portuguesa, em Lisboa (“Cimeira Constitutiva”). Na sequência de sua independência, em 2002, Timor-Leste tornou-se o oitavo Estado Membro da Comunidade.

Panorama Internacional

A proposta de criação da CPLP remonta ao primeiro encontro realizado entre Chefes de Estado e de Governo de língua portuguesa, em novembro de 1989, em São Luís do Maranhão, sob iniciativa do Presidente José Sarney, tendo recebido igualmente forte impulso do Embaixador José Aparecido de Oliveira, na primeira metade dos anos 1990. Durante o Encontro de Cúpula no Maranhão, foi decidida a criação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), com sede na Cidade da Praia, Cabo Verde. Considerado o “embrião” da Comunidade, o IILP foi, em 2005, integrado formalmente à Organização como principal espaço de coordenação para a promoção e difusão da língua portuguesa. Para a institucionalização da CPLP, contribui, igualmente, a atuação, na primeira metade dos anos 1990, do Embaixador José Aparecido de Oliveira, grande entusiasta da idéia de uma CPLP no período em que foi Embaixador do Brasil em Portugal. A CPLP constitui foro privilegiado para o aprofundamento das relações entre seus Membros, que se beneficiam de laços históricos, étnicos e culturais comuns. Baseada no princípio da solidariedade, a Comunidade concentra suas ações em três objetivos gerais: a concertação político-diplomática; a cooperação em todos os domínios; e a promoção e difusão da língua portuguesa. No âmbito da concertação política, destacam-se a coordenação de posições nos foros multilaterais, bem como a cooperação na área eleitoral, inclusive por meio de missões conjuntas de observadores nas eleições dos Estados membros. No tocante à cooperação técnica, vale sublinhar que os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), juntamente com Timor-Leste são, atualmente, os principais recipiendários da cooperação prestada pelo Brasil, a qual tem priorizado a capacitação nas áreas de formação profissional, segurança alimentar, agricultura, saúde e fortalecimento institucional, entre outras. No tocante à promoção e difusão de Língua Portuguesa, vale destacar o processo de adoção, em 2010, do Plano de Ação de Brasília para a Promoção, a Difusão e a Projeção da Língua Portuguesa. A CPLP compõe-se de um Secretariado Executivo e de três órgãos deliberativos: a Conferência de Chefes de Estado e Governo (com reuniões bianuais); o Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros e das Relações Exteriores (com reuniões anuais); e o Comitê de Concertação Permanente (CCP, com reuniões mensais). Todas as decisões são tomadas por consenso.

O Brasil e a CPLP

Desde 2006, o Brasil é representado junto à Comunidade por meio de uma Delegação permanente, criada junto à sede da Organização em Lisboa. A Organização oferece a possibilidade de associação por meio das categorias de “Observador Associado” e “Observador Consultivo”. A primeira é facultada a terceiros países, enquanto que a segunda diz respeito a entidades da sociedade civil identificadas com os princípios e propósitos da CPLP. Atualmente, gozam de status de Observador Associado o Senegal, a Guiné Equatorial e as Ilhas Maurício. Mais de cinqüenta organizações da sociedade civil são Observadores Consultivos. Como resultado do dinamismo comunitário, os mais diversos setores da Administração dos oito Estados Membros contam, atualmente, com Reuniões Setoriais Ministeriais, como é o caso das áreas: da Agricultura; dos Assuntos do Mar; da Cultura; da Defesa; da Educação; da Justiça; da Juventude e do Desporto; do Meio Ambiente; da Saúde; do Trabalho e Assuntos Sociais; e do Turismo. Além das Reuniões Setoriais, a Organização congrega igualmente uma “Assembleia Parlamentar”, que reúne representantes dos Parlamentos dos oito Estados Membros. Com vistas a fomentar o intercâmbio entre as sociedade civis dos Estados Membros, a Organização deverá promover, em 2010, o I Fórum da Sociedade Civil da CPLP. Realizam-se, ainda, no âmbito comunitário, encontros regulares entre representantes empresarias. Passados quatorze anos desde sua criação, a CPLP apresenta um acervo considerável de realizações, com crescente projeção para dentro e para fora do espaço dos Estados Membros. Evidencia-se, paralelamente, notável convergência de propósitos e a existência de diálogo direto e fraterno entre os parceiros comunitários. 

Fonte: http://www.itamaraty.gov.br. Acesso em 30/10/2012

BRICS - Agrupamento Brasil-Rússia-Índia-China-África do Sul

A idéia dos BRICS foi formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O´Neil, em estudo de 2001, intitulado “Building Better Global Economic BRICs”. Fixou-se como categoria da análise nos meios econômico-financeiros, empresariais, acadêmicos e de comunicação. Em 2006, o conceito deu origem a um agrupamento, propriamente dito, incorporado à política externa de Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2011, por ocasião da III Cúpula, a África do Sul passou a fazer parte do agrupamento, que adotou a sigla BRICS. O peso econômico dos BRICS é certamente considerável. Entre 2003 e 2007, o crescimento dos quatro países representou 65% da expansão do PIB mundial. Em paridade de poder de compra, o PIB dos BRICS já supera hoje o dos EUA ou o da União Européia. Para dar uma idéia do ritmo de crescimento desses países, em 2003 os BRICs respondiam por 9% do PIB mundial, e, em 2009, esse valor aumentou para 14%. Em 2010, o PIB conjunto dos cinco países (incluindo a África do Sul), totalizou US$ 11 trilhões, ou 18% da economia mundial. Considerando o PIB pela paridade de poder de compra, esse índice é ainda maior: US$ 19 trilhões, ou 25%. Até 2006, os BRICs não estavam reunidos em mecanismo que permitisse a articulação entre eles. O conceito expressava a existência de quatro países que individualmente tinham características que lhes permitiam ser considerados em conjunto, mas não como um mecanismo. Isso mudou a partir da Reunião de Chanceleres dos quatro países organizada à margem da 61ª. Assembléia Geral das Nações Unidas, em 23 de setembro de 2006. Este constituiu o primeiro passo para que Brasil, Rússia, Índia e China começassem a trabalhar coletivamente. Pode-se dizer que, então, em paralelo ao conceito “BRICs” passou a existir um grupo que passava a atuar no cenário internacional, o BRIC. Em 2011, após o ingresso da África do Sul, o mecanismo tornou-se o BRICS (com "s" maiúsculo ao final). Como agrupamento, o BRICS tem um caráter informal. Não tem um documento constitutivo, não funciona com um secretariado fixo nem tem fundos destinados a financiar qualquer de suas atividades. Em última análise, o que sustenta o mecanismo é a vontade política de seus membros. Ainda assim, o BRICS tem um grau de institucionalização que se vai definindo, à medida que os cinco países intensificam sua interação. Etapa importante para aprofundar a institucionalização vertical do BRICS foi a elevação do nível de interação política que, desde junho 2009, com a Cúpula de Ecaterimburgo, alcançou o nível de Chefes de Estado/Governo. A II Cúpula, realizada em Brasília, em 15 de abril de 2010, levou adiante esse processo. A III Cúpula ocorreu em Sanya, na China, em 14 de abril de 2011, e demonstrou que a vontade política de dar seguimento à interlocução dos países continua presente até o nível decisório mais alto. A III Cúpula reforçou a posição do BRICS como espaço de diálogo e concertação no cenário internacional. Ademais, ampliou a voz dos cinco países sobre temas da agenda global, em particular os econômico-financeiros, e deu impulso político para a identificação e o desenvolvimento de projetos conjuntos específicos, em setores estratégicos como o agrícola, o de energia e o científico-tecnológico. A IV Cúpula foi realizada em 29 de março de 2012, em Nova Delhi. A V Cúpula está prevista para ser realizada na África do Sul, em março de 2013. Além da institucionalização vertical, o BRICS também se abriu para uma institucionalização horizontal, ao incluir em seu escopo diversas frentes de atuação. A mais desenvolvida, fazendo jus à origem do grupo, é a econômico-financeira. Ministros encarregados da área de Finanças e Presidentes dos Bancos Centrais têm-se reunido com freqüência. Os Altos Funcionários Responsáveis por Temas de Segurança do BRICS já se reuniram duas vezes. Os temas segurança alimentar, agricultura e energia também já foram tratados no âmbito do agrupamento, em nível ministerial. As Cortes Supremas assinaram documento de cooperação e, com base nele, foi realizado, no Brasil, curso para magistrados dos BRICS. Já realizaram-se, ademais, eventos buscando a aproximação entre acadêmicos, empresários, representantes de cooperativas. Foram, ainda, assinados acordos entre os bancos de desenvolvimento. Os institutos estatísticos também se encontraram em preparação para a II e a III Cúpulas e publicaram uma coletânea de dados. Versões atualizadas da coletânea foram lançadas por ocasião da Cúpula de Sanya e da Cúpula de Nova Delhi. Todas as três publicações encontram-se neste site. Em síntese, o BRICS abre para seus cinco membros espaço para (a) diálogo, identificação de convergências e concertação em relação a diversos temas; e (b) ampliação de contatos e cooperação em setores específicos.

Fonte: http://www.itamaraty.gov.br. Acesso em 30/10/2012

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Conheça os cinco vilões do crescimento do Brasil

Luís Guilherme Barrucho - Da BBC Brasil em São Paulo
 
Embora já tenha conquistado o posto de sexta maior economia do mundo em 2011, o Brasil ainda se vê às voltas com dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que destoam do papel assumido pelo país na cena internacional nos últimos anos. Tal conjunto de entraves, o chamado "Custo Brasil", impede um crescimento mais robusto da economia, minando a eficiência da indústria nacional e a competitividade dos produtos brasileiros. Segundo especialistas, o recente cenário da queda dos juros deixou tais entraves ainda mais evidentes. "Por muito tempo, as empresas aproveitaram-se dos juros altos para ganhar dinheiro, aplicando seus lucros no mercado financeiro com vistas a maiores retornos. Porém esse cenário está mudando", afirmou à BBC Brasil André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. Na prática, com essas aplicações agora menos rentáveis, as empresas começam a deslocar o excedente de capital do setor financeiro para o setor produtivo, investindo na expansão dos próprios negócios. Nessa transição, o 'Custo Brasil' acaba ficando mais transparente, apontam os analistas. Na semana passada, o governo anunciou um pacote de R$ 133 bilhões em concessões ao setor privado de rodovias e ferrovias brasileiras pelos próximos 25 anos, na tentativa de contornar graves gargalos da infraestrutura do país. A decisão foi comemorada, porém ainda há um longo caminho a percorrer. Confira os cinco principais vilões do crescimento da economia brasileira, que, segundo as últimas previsões, não deve crescer acima de 1,75% neste ano.
1) Infraestrutura precária
Segundo um estudo do Departamento de Competitividade de Tecnologia (Decomtec), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), as empresas têm uma despesa anual extra de R$ 17 bilhões devido à precariedade da infraestrutura do país, incluindo péssimas condições das rodovias e sucateamento dos portos. Como resultado, os custos logísticos acabam encarecendo o produto final. De acordo com um levantamento do instituto ILOS, cerca de 30% do preço da tonelada soja produzida em Mato Grosso e exportada do porto de Santos, por exemplo, referem-se apenas aos gastos com transporte do grão. "O Brasil também fez uma opção pelo transporte rodoviário, mais caro do que outros meios, como ferrovias ou hidrovias", afirmou Márcio Salvato, coordenador do curso de Economia do Ibmec. Além da infraestrutura, o país também sofre com as altas tarifas de energia elétrica, apesar de cerca de 70% de sua matriz energética ser proveniente de hidrelétricas, consideradas mais limpas e baratas. Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Fierj), publicada no ano passado, mostrou que o custo médio de energia no Brasil é 50% superior à média global e mais do que o dobro de outras economias emergentes.
2) Déficit de mão de obra especializada
Em alguns setores da indústria, o Brasil já vive "um apagão de mão de obra", com falta de profissionais qualificados capazes de executar tarefas essenciais ao crescimento do país. Segundo o mais recente levantamento feito pela consultoria Manpower com 41 países ao redor do mundo, o Brasil ocupa a 2ª posição entre as nações com maior dificuldade em encontrar profissionais qualificados, atrás apenas do Japão. Entre os empresários brasileiros entrevistados para a pesquisa, 71% afirmaram não ter conseguido achar no mercado pessoas adequadas para o trabalho. Para efeitos de comparação, na Argentina o índice é de 45%, no México, de 43% e na China, de apenas 23%. "Se no Japão o maior entrave é o envelhecimento da população, o problema no Brasil é a falta de qualificação profissional", afirmou à BBC Brasil Márcia Almström, diretora da Recursos Humanos da filial brasileira da Manpower. De acordo com uma pesquisa divulgada neste ano pelo Ipea, o governo direcionou apenas 5% do PIB em 2010 para a educação, contra 7% do padrão internacional. "Sofremos com a falta de profissionais de nível técnico, de operações manuais e de engenheiros", acrescentou Almström. Atualmente, segundo a consultoria McKinsey, apenas 7% dos trabalhadores brasileiros têm diploma universitário, atrás da África do Sul (9%) e da Rússia (23%).
3) Sistema tributário complexo
Segundo o relatório 'Doing Business' do Banco Mundial, são necessárias 2.600 horas por ano para empresas de médio-porte brasileiras somente para pagar impostos, contra 415 na Argentina, 398 na China e 254 na Índia. "Já passou da hora para que o Brasil simplifique seu sistema tributário", disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. Um dos exemplos da alta complexidade tributária no Brasil pode ser verificado no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Como está presente em todos as etapas da cadeia produtiva, seu recolhimento ocorre diversas vezes e leva à cobrança de imposto sobre imposto, também conhecido de "imposto em cascata". "São 27 legislações, uma para cada estado, além de alíquotas diferentes para cada produto. Isso sem falar na alíquota interestadual", afirmou Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria e professor da FGV-SP. "Isso dificulta a vida do empresariado brasileiro", acrescentou. O resultado são produtos menos competitivos, que chegam mais caros às gôndolas e sofrem maior concorrência dos estrangeiros.
4) Baixa capacidade de investimentos público e privado
Historicamente, a taxa de investimentos tanto pública quanto privada é baixa no Brasil, em torno de 18% do PIB. Especialistas consideram que seria necessário elevar esse patamar para, pelo menos, 25% do PIB, de forma a permitir um crescimento sustentável da economia. Isso porque, sem investimentos, para a compra de novos maquinários ou para a construção de novas rotas de escoamento, por exemplo, há uma menor eficiência produtiva, o que encarece e diminui a competitividade dos produtos brasileiros. "É preciso que o governo faça os ajustes necessários para aumentar a confiança do empresariado e, assim, incentivar o investimento", acrescentou Salto.
5) Burocracia excessiva
Segundo o Banco Mundial, entre 183 países o Brasil ocupa o 126º lugar quando se analisa a facilidade de se fazer negócios, abaixo da média da América Latina (95º) e atrás de países como Argentina (115º), México (53º), Chile (39º) e Japão (22º). Até obter retorno sobre seus investimentos, cabe aos empresários brasileiros vencer uma via-crúcis, que, inclui, entre outras etapas, 13 procedimentos apenas para abrir um negócio, ou 119 dias. Na Argentina, são necessários 26 dias, no Chile, 7 e na China, 14. Entre tais procedimentos estão, por exemplo, a homologação da empresa em diferentes órgãos de supervisão, o registro dos funcionários e licenças ambientais. "Ao fim e ao cabo, o custo das empresas é extremamente alto, antes mesmo que elas produzam qualquer centavo", afirmou Salvato.
Fonte: www.bbc.co.uk/portuguese. Acesso em 07/09/2012.
 


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A luta pela reindustrialização. Por Luis Nassif

A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) foi fundada em 1937, inicialmente como Sindicato de Máquinas Texteis, quando o capital cafeeiro já havia iniciado a migração para o setor industrial paulista. Viveu tempos de glória nos anos 80, quando o Brasil tornou-se o quinto maior fabricante de máquinas e equipamentos do mundo. Hoje, o Brasil ocupa um modesto 14o lugar. Mesmo assim, o setor é expressivo: 4.500 empresas, basicamente pequenas e médias, das quais 1.500 são associadas e contribuem voluntariamente para a associação. 70% da produção são de empresas de pequeno e méido porte. Tem 260 mil empregos diretos com trabalhadores com 9 anos de tempo médio de estudo. O setor emprega mais que o automobilístico: são 260 mil empregos diretos (contra 160 mil do automobilístico). De 2008 a 2011, o faturamento do setor caiu quase 4%. No mesmo período, as importações aumentaram cerca de 36% e as exportações apenas 4,6%. Como consequência, o déficit comercial do setor foi de US$ 17 bilhões apenas em 2011. Pouco antes da crise de 2008, o setor exibia um tempo médio de 19,2 semanas para os pedidos em carteira. Atualmente está em 15,8, um dos mais baixos da história. Antes da crise, o NUCI (Nível de Utilização da Capacidade Instalada) estava em 86,1% em um turno. Com a crise, em março de 2009 caiu para 80,8%. Atualmente está em 76,1%, um dos mais baixos dos últimos 40 anos. Anos atrás, a Abimaq decidiu abrir um escritório na China, pensando identificar novas oportunidades para as empresas brasileiras. Desistiu. A maioria dos empresários que visitam a China, usavam a base de apoio da Abimaq e voltavam com uma representação de empresa chinesa. Parte desses problemas decorre da guerra comercial instaurada após a crise de 2008. Recentemente a Mitsubishi, japonesa, ofereceu uma máquina no mercado com dez anos de prazo de financiamento, dois anos de carência, 1,75% ao ano de juros e desconto de 23% no preço anterior. A invasão chinesa tem promovido uma arraso no setor. De outubro a maio, o setor dispensou 7.200 técnicos do mais alto nível. Hoje em dia, enfrenta máquinas da China que chegam no país a 8 dólares o quilo. São 800 tipos de produto chegando a um custo inferior ao próprio custo da matéria prima. A defesa comercial brasileira está nas mãos de 17 pessoas. Recentemente, houve a contratação de mais 100. Na China, são 4 mil pessoas envolvidas na defesa comercial; mais de 2.500 nos Estados Unidos. Recentemente, junto com a Fundação Getúlio Vargas, a Abimaq bancou um estudo visando estimar o chamado custo Brasil. Analisou o custo de um produto na Alemanha, Estados Unidos e no Brasil. Depois, estimou o adicional do produto brasileiro, em cada etapa fora da fábrica. Deu quase 44% a mais. Desse total, o maior peso foi do custo dos insumos internos (mesmo o Brasil sendo dos maiores produtores mundiais de minério de ferro e aço), respondendo por 24 pontos desse total. Outros 9,41 pontos foram representados pelo impacto dos juros no capital de giro. Com 4 pontos, os encargos sociais e trabalhistas. No começo do ano, o país finalmente acordou para a importância da batalha da reindustrialização. Mas há uma corrida contra o tempo. Quanto mais demorar, mais difícil será a inversão de rota.
 
Fonte: www.cartacapital.com.br. Acesso em 27/08/12.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

América Latina atingirá 90% de urbanização até 2020

A América Latina vai atingir uma taxa de urbanização de 90% até 2020, segundo um estudo inédito do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (Onu-Habitat), divulgado na manhã desta terça-feira 21. Os dados mostram que a América Latina e o Caribe são as regiões mais urbanizadas do mundo, embora uma das menos povoadas em proporção territorial. Na área, cerca de 80% das pessoas moram em cidades hoje, número superior ao de países desenvolvidos. Metade da população urbana vive em cidades com menos de 500 mil habitantes (222 milhões de indivíduos) e 14% nas megacidades (65 milhões). Embora o número de municípios tenha aumentado seis vezes em 50 anos, o crescimento demográfico e a urbanização perderam força. E o acesso maior a serviços de água e saneamento tornou as cidades menores mais atrativas. Se em 1950 havia 320 cidades com pelo menos 20 mil habitantes, meio século depois o número passou para 2 mil. As metrópoles (com mais de 5 milhões de habitantes), inexistentes na América Latina e no Caribe em 1950, hoje são oito: Cidade do México, São Paulo, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Lima, Bogotá, Santiago e Belo Horizonte. Mas as cidades com maior densidade populacional crescem menos em termos populacionais desde os anos 80, quando começaram a perder vantagens competitivas. Em termos econômicos, o peso destes locais está diminuindo em detrimento de cidades menores, como regiões fronteiriças e municípios que se beneficiam de grandes investimentos industriais e corredores econômicos. As cidades com menos de 1 milhão de habitantes têm crescido mais.
Desigualdade
Segundo o estudo da ONU, as 40 principais cidades da região somam um PIB anual de 842 bilhões de dólares. Mais de 65% do produto interno bruto regional vem de áreas urbanas, onde se concentram os serviços e a indústria. A renda per capita da América Latina e Caribe quase triplicou desde os anos 70, mas isso ocorreu com grandes disparidades. Algo evidenciado por cidades com receitas por habitante superiores à média de seu país. A luta contra a pobreza também teve avanços na última década, com queda na proporção da população urbana pobre. Os números absolutos, porém, ainda são elevados. Cerca de 124 milhões de habitantes de cidades vivem na pobreza, um em cada quatro pessoas em áreas urbanas. Essa desigualdade e a pobreza aparecem nas condições precárias das habitações nas cidades da região, como favelas. Mais de 111 milhões de pessoas ainda moram em casas nestas condições, um número superior ao verificado há 20 anos. Isso porque, segundo o estudo, não há quantidade e qualidade suficiente de casas para garantir condições mínimas à população.
Fonte: www.cartacapital.com.br. Acesso em 21/08/2012.



terça-feira, 7 de agosto de 2012

MODERNIZAÇÃO ECONÔMICA NO MUNICÍPIO DE TIJUCAS (SC): O PAPEL DO GRUPO USATI-PORTOBELLO

O presente trabalho tem como objetivo analisar as transformações sócioespaciais ocorridas no município de Tijucas decorrentes do processo de modernização econômica desencadeado pelo Grupo USATI-PORTOBELLO. Para ter acesso ao trabalho clique no link abaixo:

http://k004.kiwi6.com/hotlink/b50d2n0i47/modernizacao_economica_no_municipio_de_tijucas_sc.pdf

terça-feira, 31 de julho de 2012

REINO UNIDO DA GRÃ-BRETANHA E DA IRLANDA DO NORTE E A REPÚBLICA DA IRLANDA

Reino Unido (em inglês: United Kingdom - UK), oficialmente Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte (em inglês: United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland), é um país insular soberano localizado na costa noroeste da Europa continental. O Reino Unido inclui a ilha da Grã-Bretanha, a parte nordeste da ilha da Irlanda, além de muitas outras ilhas menores. A Irlanda do Norte é a única parte do Reino Unido com uma fronteira terrestre, sendo a mesma com a República da Irlanda. Fora essa fronteira terrestre, o Reino Unido é cercado pelo Oceano Atlântico, o Mar do Norte, o Canal da Mancha e o Mar da Irlanda. O Reino Unido é uma união política de quatro nações constituintes: Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. A nação é governada por um sistema parlamentar com a sede do governo em Londres, a capital, e é uma monarquia constitucional com a rainha Elizabeth II sendo a chefe de Estado. As dependências da Coroa das Ilhas do Canal (ou Ilhas Anglo-Normandas) e a Ilha de Man, formalmente possessões da Coroa, não fazem parte do Reino Unido, mas formam uma confederação com ele. O Reino Unido tem quatorze territórios ultramarinos, todos remanescentes do Império Britânico, que no seu ápice, possuía quase um quarto da superfície terrestre mundial, fazendo desse o maior império da história. Como resultado do império, a influência britânica pode ser vista na língua, cultura e sistemas judiciários de muitas de suas ex-colônias como o Canadá, Austrália, Índia e os Estados Unidos. A rainha Elizabeth II permanece como a chefe da Comunidade das Nações (Commonwealth) e chefe de Estado de cada uma das monarquias na Commonwealth. A área total do Reino Unido é de aproximadamente 245.000 quilômetros quadrados compreendendo a maior parte das Ilhas Britânicas, incluindo a ilha da Grã-Bretanha, o nordeste da ilha da Irlanda (Irlanda do norte) e outras pequenas ilhas. É banhado pelo Oceano Atlântico Norte e o mar do Norte e está a 35 quilômetros da costa noroeste da França, separados pelo Canal da Mancha.


História

Em 1 de Maio de 1707 foi criado o Reino Unido da Grã-Bretanha, normalmente referido depois por Reino da Grã-Bretanha, criado pela união política do Reino da Inglaterra (que incluía o uma vez independente Principado de Gales) e o Reino da Escócia. Isso foi o resultado do Tratado de União assinado em 22 de Julho de 1706, e depois ratificado pelos parlamentares de Inglaterra e Escócia passando a um Ato de União em 1707. Quase um século depois, o Reino da Irlanda, que estava sob controle inglês entre 1541 e 1691, uniu-se ao Reino da Grã-Bretanha no Ato de União de 1800. Embora Inglaterra e Escócia tivessem sido países separados antes de 1707, eles tinham uma união pessoal desde 1603, quando Jaime VI, Rei dos Escoceses, herdou o trono do Reino da Inglaterra, tornando-se Rei Jaime I da Inglaterra, e trocou Edimburgo por Londres.


A Inglaterra corresponde a praticamente a metade da área total do Reino Unido, cobrindo 130.410 quilômetros quadrados. A maioria do país é formada de planícies e terras montanhosas no noroeste da linha Tees-Exe. Cadeias de montanhas são encontradas no noroeste (Montanhas Cumbrianas do Lake District), no norte (o pântano dos Peninos e as colinas de calcário do Peak District) e no sudoeste (Exmoor e Dartmoor). Lugares mais baixos incluem as colinas de calcário da Ilha de Purbeck, Costwolds e Lincolshire Worlds, e crés da formação de crés do sul da Inglaterra. Os principais rios e estuários são o Tâmisa, o Severn e o Estuário de Humber. A maior montanha do país é o Pico Scafell, localizado no Lake District com 978 metros.


A Escócia conta com um terço de toda a área do Reino Unido, cobrindo 78.772 quilômetros quadrados.  A topografia da Escócia é distinguida pela Falha da Highland – uma falha geológica – que atravessa as planícies escocesas de Helensburgh à Stonehaven. A fratura separa duas regiões diferentes; as Highlands (Terras Altas) no norte e no oeste e as Lowlands (Terras Baixas) no sul e no leste. A região das mais rochosas Highlands contém a maioria dos terrenos montanhosos da Escócia, incluindo o maior pico, Ben Nevis, com 1 344 metros. É nas Terras Baixas (Lowlands), no sul da Escócia, onde se encontra a maioria da população, especialmente no cinturão estreito de terra entre o Firth de Clyde e o Firth de Forth conhecido como o Cinturão Central. Glasgow é a maior cidade da Escócia, embora Edimburgo seja a capital e o centro político do país. A Escócia também tem em torno de oitocentas ilhas, principalmente no oeste e no norte, notadamente as Hébridas, as Órcades e as Shetland.


O País de Gales corresponde a menos de um décimo da área total do Reino Unido, cobrindo apenas 20.758 quilômetros quadrados. O país é na sua maioria montanhoso embora o sul seja menos montanhoso que o norte. As principais áreas industriais e populacionais estão em Gales do Sul, como as cidades de Cardiff, Swansea e Newport e os arredores dos Vales de Gales do Sul. As montanhas mais altas do País de Gales estão em Snowdonia e inclui Snowdon (Wydfa em galês), que, com 1.085 metros, é o pico mais alto do País de Gales. As 14 montanhas galesas com mais de .3000 pés (914 metros) de altura são conhecidas coletivamente como o 3.000 Galês. Gales faz fronteira com a Inglaterra no leste, e no mar nas outras três direções: o canal de Bristol no sul, o Canal de São Jorge no oeste, e o Mar da Irlanda no norte. Gales tem mais de 1.200 km de costa marítima. E, além disso, tem diversas ilhas, sendo a maior delas Anglesey (‘Ynys Môn’) no noroeste.


A Irlanda do Norte conta com somente 14.160 quilômetros quadrados e é na maioria montanhosa. Ela inclui o Lough Neagh, com 388 quilômetros quadrados, o maior lago do Reino Unido e da Irlanda. O ponto mais alto é o Slieve Donard com 849 metros na província de Montanhas Mourne. Atualmente, a Irlanda do Norte não tem bandeira oficial. É utilizada em substituição a Bandeira do Reino Unido desde 1972. Até então, o governo norte-irlandês utilizava oficialmente o Estandarte do Ulster para representar a Irlanda do Norte.


Irlanda (em irlandês: Éire e em inglês: Ireland), oficialmente República da Irlanda (em irlandês: Poblacht na hÉireann e em inglês: Republic of Ireland), é um Estado soberano da Europa que ocupa cerca de cinco sextos da ilha homônima. É uma república constitucional governada como uma democracia parlamentar, com um presidente eleito servir como chefe de Estado. Considerada um país desenvolvido, a Irlanda tem o sétimo mais alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, além de ótimas classificações em índices que medem o grau de democracia e liberdades como a de imprensa, econômica e política. Além da União Europeia (UE), a Irlanda também é membro do Conselho da Europa, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da Organização Mundial do Comércio (OMC) e das Organização das Nações Unidas (ONU). Sua capital é Dublin e sua população é estimada em 4,58 milhões de habitantes. O Estado moderno irlandês foi fundado em 1922 como o Estado Livre Irlandês, um domínio dentro do Império Britânico, na sequência do Tratado Anglo-Irlandês que pôs fim à Guerra de Independência da Irlanda. A partição da Irlanda já havia sido prevista na legislação britânica anterior a 1921, como forma de resposta à oposição irlandesa ao Home Rule britânico ou aos movimentos de independência de unionistas, que formaram uma maioria na parte nordeste do país. Seis dos nove condados da província nortista do Ulster foram então estabelecidos como a Irlanda do Norte, uma parte do Reino Unido, com o qual o Estado irlandês divide a sua única fronteira terrestre. A Irlanda é cercada pelo Oceano Atlântico, com o mar Céltico ao sul, o Canal de São Jorge a sudeste e o Mar da Irlanda a leste. A ilha da Irlanda tem uma extensão de mais 84.421 km², dos quais cinco sextos pertencem à República, constituindo o restante a Irlanda do Norte. É banhada a oeste pelo oceano Atlântico, a nordeste pelo canal do Norte, a leste pelo mar da Irlanda e a sudeste e sul pelo canal de São Jorge e pelo mar Céltico.
Fonte: pt.wikipedia.org

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Breve Introdução aos Conceitos Geográficos

Dentre os conceitos da Geografia, o espaço geográfico é o mais abrangente, apresentando-se como “um todo” do qual derivam os demais conceitos e com o qual eles se relacionam. Correa [1] lembra que o termo espaço é de uso corrente, utilizado no dia a dia e em diversas ciências. Nos dicionários o verbete espaço apresenta numerosos qualificativos, além de ser descrito segundo várias acepções diferentes. “Entre os astrônomos, matemáticos, economistas e psicólogos, entre outros, utiliza-se, respectivamente, as expressões espaço sideral, espaço topológico, espaço econômico e espaço pessoal” [1]. O homem é o agente por excelência do espaço geográfico. O espaço somente passa a existir quando se verifica interação entre o homem e o meio em que vive, do qual retira o que lhe é necessário para a sobrevivência, promovendo alterações de suas características originais. A forma como as sociedades se relacionam com o espaço vai se modificando, enquanto sua capacidade de intervenção se acentua e o espaço geográfico torna-se cada vez mais abrangente, chegando atualmente, a quase se sobrepor a todo o globo. Além disso, a presença humana efetiva não é imprescindível para que uma área seja definida como espaço geográfico, basta que a área esteja inserida nos projetos humanos ou que se verifique intervenção indireta, como por exemplo, através de zoneamentos e delimitação de áreas de preservação. A expressão espaço geográfico ou simplesmente espaço, aparece como vaga, estando associada a uma porção específica da superfície da terra identificada, seja pela natureza, como destaca Correa [1], seja por um modo particular como o homem imprimiu as suas marcas, seja com referência a simples localização. O autor acrescenta que “a palavra espaço tem o seu uso associado indiscriminadamente a diferentes escalas, global, continental, regional, da cidade, do bairro, da rua, da casa e de um cômodo no seu interior.” [1]. O conceito de paisagem está relacionado a tudo que os sentidos humanos podem perceber e apreender da realidade de determinado espaço geográfico ou parte dele, está diretamente relacionado à sensibilidade humana. Há quem entenda a paisagem como uma realidade que pode ser representada visualmente em uma fotografia ou pintura. Embora a visão seja o principal sentido com o qual se observa a realidade, outros sentidos também podem participar da identificação da paisagem, introduzindo-se informações como sons e odores na descrição da paisagem, método através da qual ela pode ser bem explorada. A paisagem também se constitui como uma realidade atual construída através do acúmulo de acontecimentos ou eventos passados, uma vez que o que é observado em uma paisagem da atualidade passou por um processo de constantes mudanças. Esse aspecto pode ser percebido através da observação de fotografias de uma mesma paisagem referentes a períodos diferentes, na qual se pode perceber o que permanece e o que foi sendo alterado, para formar a paisagem atual. De modo geral, as mudanças causadas pela natureza (como, por exemplo, a erosão) são percebidas apenas lentamente, enquanto que as alterações humanas são mais rápidas (como por exemplo, a construção de uma cidade), embora um evento natural como terremotos e furacões também possa promover grandes alterações. A paisagem pretérita apresentava um conjunto de muitos elementos naturais, no entanto, a paisagem humanizada tem se expandido, à medida que o homem altera a natureza, mesmo quando modela uma nova paisagem aparentemente natural, como ocorrem com os jardins. As paisagens humanizadas ou artificiais de maior visibilidade são as áreas urbanas construídas pela ação humana. Ao fazer referência à distinção entre paisagens naturais e humanizadas, Santos [2] assim se manifesta: A paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem. Se no passado havia a paisagem natural, hoje essa modalidade de paisagem praticamente não existe mais [...]. Quanto mais complexa for a vida social, tanto mais nos afastamos de um mundo natural e nos endereçamos a um mundo artificial [...], este parece ser o caminho da evolução [2].
A compreensão do termo território não se restringe a sua situação de conceito geográfico, mas também faz parte do uso corrente de outras ciências, em que é adotado com significados diferentes. Alguns termos têm importantes associações com o conceito de território. O mais importante deles é o poder, já que os territórios são formados fundamentalmente a partir de relações de poder de determinado agente. As fronteiras territoriais também são essenciais, uma vez que delimitam a área alcançada por essas relações de poder, sendo as mais conhecidas, as fronteiras nacionais e outras delimitações políticas como, por exemplo, subdivisões estaduais internas. Da mesma forma que ocorre com vários dos demais conceitos, podemos identificar territórios em níveis escalares diferentes como, por exemplo, em escala mundial, nacional, regional, local. As discussões a respeito da territorialidade destacam a possibilidade de que as relações de poder não necessariamente efetivem áreas de ocupação e controle de determinados agentes, em que as fronteiras podem se manifestar instáveis. A territorialidade se mantém associada às relações de poder e se apresenta como a tentativa de constituir um território, nem sempre materializável, através de fronteiras bem delimitadas. As disputas de grupos rivais pelo controle do tráfico de drogas nas favelas, as áreas de prostituição nas regiões centrais das cidades e as ocupações dos movimentos de trabalhadores sem terra são alguns exemplos de como a territorialidade pode se constituir. O conceito de região geográfica passou por vários momentos de discussão no interior da Geografia desde sua gênese, em que seu significado foi sendo alterado de acordo com o direcionamento científico [3]. As alterações referentes ao conceito de região se verificam devido a mudanças dentro da própria Geografia, tendo passado pelo uso das seguintes classificações: região natural (surge a partir da inspiração da geologia e entende-se que o ambiente tem certo domínio sobre a orientação do desenvolvimento da sociedade, configurando o determinismo geográfico); região geográfica ou região-paisagem (em que admite-se que a sociedade não é determinada pelo meio em que vive, mas dele dispõe como deseja, tansformando-o segundo suas possibilidades); a região homogênea e a região funcional (tendo como pressupostos análises de âmbito econômico) e o conceito de região associado ao sentimento de pertencimento da população a uma parte do espaço [3]. O desenvolvimento e aceleração do processo de globalização dão a impressão de que o mundo caminha cada vez mais para uma economia unificada, uma dinâmica cultural hegemônica, uma sociedade que só poderá ser compreendida como um processo de reprodução social global. Gomes [3] recorda que alguns autores chegam a enunciar o fim das regiões devido à homogeneização dos espaços e à uniformização dos processos sociais. No entanto, o geógrafo Milton Santos [4] destaca a universalidade do fenômeno da região afirmando que “nenhum subespaço do planeta pode escapar ao processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é, individualização e regionalização”. As regiões são entendidas como o suporte e a condição das relações globais, sem o qual estas não se realizam. O processo de regionalização é o que dá origem às regiões. Dessa forma, secciona-se o espaço geográfico em partes que apresentam internamente características semelhantes. Os elementos internos de uma região não são idênticos, mas quando comparados aos elementos de outra região se percebe certa homogeneidade interna. Para se empreender um processo de regionalização é preciso estabelecer um conjunto de objetivos e de critérios segundo os quais o espaço será dividido, podendo estes critérios ser de ordem natural, política, econômica, social, etc. Vários tipos de regionalizações para o mesmo espaço podem ser propostos, seguindo objetivos e critérios específicos e promovendo uma sobreposição de regiões. Cada regionalização pode ou não considerar os limites administrativos previamente definidos. O conceito de lugar faz referência a uma realidade de escala local ou regional e pode estar associado a cada indivíduo ou grupo. O lugar pode ser entendido como a parte do espaço geográfico efetivamente apropriada para a vida, área onde se desenvolvem as atividades cotidianas ligadas à sobrevivência e às diversas relações estabelecidas pelos homens. Para compreensão deste conceito evoca-se a “valorização das relações de afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao seu ambiente” [5]. O lugar significa muito mais do que simplesmente uma localização geográfica, ele está relacionado aos diversos tipos de experiência e envolvimento com o mundo. Além disso, o lugar também se associa ao sentimento de pertencer a determinado espaço, de identificação pessoal com uma dada área. Cada localidade possui características próprias que, em conjunto, conferem ao lugar uma identidade própria e cada indivíduo que convive com o lugar, com ele se identifica. Dessa forma, o lugar garante a manutenção interna da situação de singularidade. As parcelas do espaço geográfico com a qual cada indivíduo se relaciona e interage compõe o seu lugar. Cada pessoa terá um lugar diferente da outra, na medida em que ambas possuem vida e cotidiano diferentes. O lugar possui também íntima relação com os aspectos culturais que marcam cada sociedade. As redes geográficas adquirem importância cada vez maior no contexto atual. Castells [6] define a rede como “um conjunto de nós interconectados e nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta” [6]. Os nós das redes podem ser representados por vários elementos do espaço como, por exemplo, centros urbanos, bolsas de valores, sistemas de televisão, etc. As redes são o meio através do qual se desenvolvem e se manifestam os diferentes tipos de fluxos, conforme o tipo de rede e de seus nós. A rede urbana é uma forma simples de compreender a organização em redes. Neste caso, identifica-se uma hierarquia de cidades conforme seu porte e sua importância econômica, sendo seus nós compostos por: cidades globais, metrópoles nacionais, metrópoles regionais, centros regionais, subcentros regionais e cidades locais. Há uma interligação entre esses nós da rede urbana, entre os quais se estabelecem fluxos de mercadorias, pessoas, serviços, etc. A nova economia mundial está cada vez mais se organizando em torno das redes globais de mercadorias e de capital. A sociedade em redes em suas várias expressões é uma sociedade capitalista em que este modo de produção dá forma às relações sociais em todo o planeta. O desenvolvimento da tecnologia da informação favorece a base material para a expansão das redes em toda a estrutura social a ponto de que a tendência seja de que cada vez mais a sociedade se organize em forma de redes geográficas materiais e não-materiais. As escalas geográficas são compreendidas como níveis em que o espaço é “subdividido” para melhor ser compreendido e analisado. As diferentes escalas são interligadas, uma vez que todas são maneiras de compreender o espaço geográfico. O termo escala pode ser associado à escala cartográfica, mas deve ultrapassá-la, pois não envolve apenas análise numérica, quantitativa, mas também análise qualitativa dos fenômenos analisados. Devido a dificuldade de seleção de uma escala prioritária e mais adequada para análise de um fenômeno, Vainer [7] propôs a adoção de estratégias transescalares para compreensão dos fenômenos e situações do mundo atual, assim como para promover intervenções. As estratégias transescalares são propostas porque “qualquer projeto de transformação envolve, engaja e exige táticas em cada uma das escalas em que hoje se configuram os processos sociais, econômicos e políticos estratégicos” [7]. A escala em si é menos importante que a capacidade de articulação entre variadas escalas.

REFERÊNCIAS

1. CORREA, Roberto Lobato. Espaço Geográfico: algumas considerações. In: ______. Novos Rumos da Geografia Brasileira. São Paulo: Hucitec, 1982, p. 25-34.
2. SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: HUCITEC,1988, p.64-65.
3. GOMES, Paulo César da Costa. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, Iná Elias; ______; CORREA, Roberto Lobato. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p. 49-76.
4. CASTRO, I. E. de. "A região como problema para Milton Santos". In: El ciudadano, la globalización y la geografía. Homenaje a Milton Santos. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, Universidad de Barcelona, v. VI, n. 124, 30 de septiembre de 2002.
5. LEITE, Adriana Filgueira. O Lugar: Duas Acepções Geográficas. In: Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ. Rio de Janeiro: 1998, volume 21, p. 9-20.
6. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede (A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, v. 1) São Paulo: Paz e Terra, 2000. Tradução de Roneide Venâncio Majer com colaboração de Klauss Brandini Gerhardt.
7. VAINER, Carlos Bernardo. As escalas do poder e o poder das escalas: o que pode o poder local? In: Cadernos do IPUR. Rio de Janeiro: IPUR-UFRJ/DPA Editora, 2002, p. 13-32.

Fonte: www.coluni.ufv.br. A importância dos conceitos da Geografia para a aprendizagem de conteúdos geográficos escolares. Autora: Severina Sarah Lisboa. Acesso em 18/07/2012.


terça-feira, 17 de julho de 2012

Os dois mais novos municípios de Santa Catarina: Pescaria Brava e Balneário Rincão

Dois municípios do Sul de Santa Catarina vão estrear nas eleições desse ano. Pescaria Brava, que se emancipou de Laguna, e Balneário Rincão, que era um distrito de Içara, vão escolher em outubro de 2012 os primeiros prefeitos e vereadores.

Pescaria Brava

Falar em eleição em Pescaria Brava significa a oportunidade de desenvolvimento do distrito que foi criado por uma resolução provincial no dia 15 de maio de 1857. Entre as prioridades, estão à instalação de empresas ou indústrias para geração de empregos e melhor infraestrutura. O novo município tem como principal característica a tranquilidade dos pequenos povoados do interior. Uma das principais atrações é a igreja Senhor Bom Jesus do Socorro, inaugurada em 7 de agosto de 1857.  Parte da população trabalha na pesca, engenhos de farinha ou nas pequenas fábricas de móveis e malharias. Mas a maioria bate ponto nas cidades vizinhas. Mas o "efeito emancipação" já trouxe pequenos avanços. Há quatro anos, parte da estrada de acesso entre o novo município e a BR-101 foi asfaltada e, recentemente, uma agência lotérica foi aberta em Barreiros, o que proporciona mais comodidade na hora de pagar contas e fazer jogos. Apesar de ter mais de 150 anos, Pescaria Brava não tem um aspecto antigo. O padrão das moradias é bom e são poucas as pessoas quem vivem em condições de miséria. O distrito de Pescaria Brava possui território de 120 quilômetros quadrados e cerca de 11 mil habitantes e 6.043 eleitores, divididos em 14 bairros além da sede do distrito. O Distrito de Pescaria Brava é um dos distritos mais antigos do Brasil com mais de 150 anos. Sua formação - essencialmente açoriana - data do ano de 1700, antes mesmo da colonização da maioria das grandes cidades gaúchas.  Tem como base da sua economia a agricultura familiar sendo que a principal atividade rural é a agricultura, com destaque no plantio de mandioca, feijão, milho e arroz. Possui diversas indústrias de beneficiamento de mandioca (Engenhos de farinha). Dedica-se ainda na criação de gado leiteiro, corte, suínos e ovos, possuindo 497 quatrocentos e noventa e sete produtores rurais, conforme dados fornecidas pelo Programa Catarinense de Profissionalização de Agricultores. Atualmente, o Distrito de Pescaria Brava tem, no total, 1.421 (mil quatrocentos e vinte e um) agricultores associados, no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Laguna. Na pesca, o destaque é o camarão extraído da lagoa de Imaruí, que é um produto muito apreciado em todo o Estado de Santa Catarina, por seu sabor singular devido à baixa salinidade da água da Lagoa. Apesar de que nas últimas décadas esta atividade teve alta queda na produção devido à pesca indiscriminada dos camarões na fase de procriação, e ao processo lento, mas constante de poluição da água. São pescados também peixes como a tainha, corvina, bagre, anchova e outros peixes, que suprem apenas as necessidades internas do Distrito. Outra atividade que vem se desenvolvendo muito nos últimos anos é a Carcinicultura (criação de camarão em cativeiro), que aproveita os alagados à margem da Lagoa de Imaruí, que até então eram consideradas terras improdutivas.

Balneário Rincão

Cerca de 15 mil pessoas vivem em Balneário Rincão. Durante a temporada de verão, o local recebe mais de 130 mil veranistas. O que a população quer é um equilíbrio, para que na baixa temporada o novo município também alcance um bom desenvolvimento social e econômico. O Rincão do verão tem bares, restaurantes, festas, supermercados, lojas e milhares de pessoas que aquecem a economia local. A praia e as lagoas viram pontos turísticos superlotados. Porém, nos nove meses seguintes, fora do período das férias de verão, a cidade fica praticamente deserta, com a pequena população local e o comércio restrito às lojas e poucos supermercados. A pouca movimentação no balneário durante a baixa temporada também apresenta um ônus comum em outras cidades litorâneas e fruto de constantes reclamações: o alto índice de arrombamentos. Várias casas de uma mesma rua já foram arrombadas no mesmo dia, o que faz com que os moradores peçam mais segurança. Balneário Rincão é um município ainda não instalado que, no verão, se torna uma praia bastante procurada no Sul do estado de Santa Catarina. O Balneário Rincão fica localizado no Sul Catarinense, a 186 km de Florianópolis, capital do Estado e a está a 16 km do Município de Içara. O Balneário Rincão é bastante agitado nas épocas festivas de verão, oferecendo boa estrutura para os veranistas, além de diversas opções de lazer. O Balneário possui 13 km de orla marítima, com 02 plataformas de pesca, e 06 lagoas de água doce. O mar também apresenta condições de boas ondas em certas épocas do ano, sendo bastante procurado pelos surfistas, principalmente nas proximidades da plataforma norte. Ainda no Balneário Rincão, destaca-se a Festa da Tainha, no mês de junho; e o Museu Arqueológico Nossa Senhora dos Navegantes, que possui um acervo de urnas funerárias, utensílios de barro, flechas, cadáveres indígenas com idade entre 400 e 3 mil anos, e outros objetos recuperados nos sete sítios arqueológicos de Içara.

Fonte: diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc. Acesso em 12/07/2012.

www.amurel.org.br. Acesso em 17/07/2012.

www.wikipedia.com.br. Acesso em 17/07/2012.


sábado, 14 de julho de 2012

Criada à direita, Aliança do Pacífico rivaliza com o ‘esquerdista’ Mercosul. Por Gabriel Bonis.

Há cerca de um mês, a criação de um bloco de integração na América Latina passou quase despercebida no Brasil, mas aparentemente não entre os líderes do Mercosul. A entrada da Venezuela no mercado sul-americano é apontada como uma reação à Aliança do Pacífico. Formado por Chile, Peru, Colômbia e México, o acordo prevê a integração das economias dos países do oceano Pacífico para que seus integrantes enfrentem a concorrência asiática e se transformem no motor do crescimento latinoamericano. Uma proposta que imporá desafios ao projeto de expansão do Mercosul, como a solução de problemas internos de seus membros, mas sem inicialmente ameaça-lo. A Aliança do Pacífico aposta na diversificação de suas relações comerciais para conter o avanço chinês na região, ao mesmo tempo que aproveita os benefícios da demanda asiática por commodities. Todo esse fluxo de comércio comporia uma área de livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas, em um projeto semelhante ao Mercosul. A principal diferença apontada pelos líderes dos países do novo bloco, no entanto, seria a busca por uma integração rápida. Algo que tornaria o mecanismo mais atraente, embora ele já seja visto como a iniciativa “mais importante” e ambiciosa da região pelo economista Roberto Teixeira da Costa, presidente da Câmara de Arbitragem da Bolsa de Valores de São Paulo. Para ele, o plano acerta ao explorar a ligação com Pacífico, que coloca o bloco na rota preferida das Américas com a Ásia, logo, em vantagem ao Mercosul na concorrência pelo mercado asiático. O novo bloco, que reúne 40% do PIB da América Latina, 55% de todas suas exportações e um mercado de 206 milhões de consumidores, possui planos ambiciosos na relação entre seus membros. O projeto foca na consolidação de novos investimentos, principalmente em uma maior integração energética e de infraestrutura, e mais comércio intrarregional (com colaboração alfandegária). A Colômbia seria o referencial para as exportações da produção geral, por possuir tratados de livre comércio com EUA, Canadá e China, por exemplo. Um fator que pode levar esses itens aos mercados citados em melhores condições de preço que os do Mercosul. A Aliança também ataca à burocracia, apresentando o Mercado Comum Sul-americano como um exemplo a ser ignorado. O grupo pretende avançar de forma mais rápida sem impedimentos ideológicos em temas comerciais e de integração, abominando itens como barreiras protecionistas. O discurso é totalmente liberalizante, seja nas tarifas, comércio eletrônico, cooperação aduaneira ou investimentos. E mostra também uma divisão ideológica entre os governos dos países da América do Sul. Enquanto o Mercosul vive um momento de líderes de esquerda – com a exceção do Paraguai após a deposição de Fernando Lugo -, a Aliança do Pacífico reúne os países mais neoliberais da América Latina. A exceção fica com o presidente do Peru, Ollanta Humala, da esquerda. Mas o mandatário está preso ao bloco, proposto pelo ex-presidente Alan García, que conduziu reformas liberais no país andino. O projeto pretende ter grande envergadura regional e abocanhar novos membros. Um discurso que começa a rivalizar com os planos de integração do Mercosul. O novo ministro da Fazenda do Paraguai declarou na última semana que a suspensão do país do mercado comum sul-americano empurra o governo paraguaio a buscar alianças com outros países e blocos, que incluem os EUA e países da Aliança do Pacífico. Mas para Giorgio Romano Schutte, coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), essa ameaça poderia ser contornada com os países de ambos os blocos realizando acordos econômicos mais flexíveis por meio da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), embora sempre em alerta ao eventual avanço da Aliança. “Se a AP entrar na América do Sul, seria um cenário que a diplomacia brasileira deve atuar.” Apesar dessa pressão, o Mercosul não deve sentir-se ameaçado. Alguns elementos da formação da Aliança indicam possíveis dificuldades de integração dos países do novo bloco. Entre eles, a heterogeneidade dos interesses comerciais de seus integrantes. Tullo Vigevani, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e especialista em Mercosul, destaca que o fato de México, Colômbia, Chile e Peru estarem ligados por tratados de área de livre comércio com os EUA coloca a possibilidade de uma integração regional e produtiva, como se pretende no Mercosul, difícil de se deslumbrar. Até porque os países da aliança também possuem acordos com o Mercosul. Para o analista, o Mercosul tem mais chances de seguir consolidar uma integração regional. Isso dependeria, no entanto, de uma solução por parte dos governos dos países do bloco para suas dificuldades regionais e de desenvolvimento interno, que tendem a sinalizar com medidas protecionistas. “Isso não é bom para uma integração, a não ser que se pensasse em um regional desenvolvimentismo.”

Fonte: www.cartacapital.com.br. Acesso em 14/07/2012

sábado, 23 de junho de 2012

A “economia verde” é o novo Consenso de Washington?

I. Economia Verde: A Nova Fase da Expansão Capitalista e de Ajuste Estrutural
1. Atualmente enfrentamos grandes riscos – até mesmo uma crise de civilização – que se manifestam em muitas dimensões e que são exacerbados por desigualdades sem precedentes. Sistemas e instituições que sustentam a vida e as sociedades – tal como a produção de energia e alimentos, o clima, a água, a biodiversidade e mesmo as instituições econômicas e democráticas – estão sob ataque ou em colapso.
2. Na década de 1980, enfrentando uma crise da lucratividade, o capitalismo lançou uma ofensiva maciça contra trabalhadores e povos, buscando aumentar os lucros através da expansão dos mercados e da redução de custos pela liberalização das finanças e negócios, flexibilização do trabalho e privatização do setor público. Esse ‘ajuste estrutural’ maciço ficou conhecido como Consenso de Washington.
3. Hoje, frente a uma crise ainda mais complexa e profunda, o capitalismo está lançando um novo ataque que combina as antigas medidas de austeridade do Consenso de Washington – como estamos presenciando na Europa – com uma ofensiva para criar novas fontes de lucro e crescimento através da agenda da “Economia Verde”. Embora o capitalismo sempre se baseou na exploração do trabalho e da natureza, essa nova fase da expansão do capitalismo busca explorar e lucrar colocando um valor precificado em capacidades essenciais da natureza para gerar vida.
4. A Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, em 1992, institucionalizou importantes bases para a cooperação internacional no desenvolvimento sustentável, tal como o princípio de que o poluidor paga, as responsabilidades comuns porém diferenciadas e o princípio da precaução. Mas o Encontro do Rio também institucionalizou o conceito de “desenvolvimento sustentável” baseado do “crescimento” ilimitado. Em 1992, as Convenções do Rio reconheceram pela primeira vez os direitos das comunidades indígenas e suas contribuições centrais para a preservação da biodiversidade. Mas, nos mesmos documentos, os países industrializados e as corporações obtiveram a garantia da propriedade intelectual das sementes e dos recursos genéticos que roubaram através de séculos de dominação colonial.
5. Vinte anos depois, em 2012, o saque continua. A agenda da “Economia Verde” é uma tentativa de expandir o alcance do capital financeiro e integrar ao mercado tudo o que resta da natureza. Pretende fazer isso colocando um “valor” monetário ou um “preço” na biomassa, na biodiversidade e nas funções dos ecossistemas – como o armazenamento de carbono, a polinização de plantações ou a filtragem da água – a fim de integrar esses “serviços” como unidades comercializáveis no mercado financeiro.

II. O Que e Quem Está Por Trás do Draft Zero (Esboço Zero)?

6. O resultado do documento “draft zero” para a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável da Rio+20 se chama “O Futuro que Queremos”1. No coração desse breve texto está a seção “A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza”.
7. O “draft zero” – como todos os ataques perversos do capitalismo – é cheio de generalidades para esconder as reais intenções. A força ideológica por trás do “draft zero” é o relatório de 2011 do PNUMA Rumo a Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e Erradicação da Pobreza, que mostra claramente o objetivo final de alcançar o “capitalismo verde”. 2
8. Em uma escala global, a “Economia Verde” procura desassociar o crescimento econômico da deterioração do meio ambiente através de um capitalismo tridimensional que inclui capital material, capital humano e capital natural (rios, zonas úmidas, florestas, recifes de corais, diversidade biológica e outros elementos). Para a “Economia Verde”, a crise de alimentos, do clima e da energia compartilham uma característica comum: uma alocação falha de capital. Como resultado, eles tentam tratar a natureza como capital – “capital natural”. A “Economia Verde” considera essencial colocar um preço no serviço gratuito que plantas, animais e o ecossistema oferecem a humanidade em nome da “conservação” da biodiversidade, purificação da água, polinização das plantas, proteção do recife de corais e regulação do clima. Para a “Economia Verde”, é necessário identificar as funções específicas do ecossistema e da biodiversidade e atribuir a eles um valor monetário, avaliar suas condições atuais, estipular um limite depois do qual eles não irão mais prover serviços e concretizar em termos econômicos o custo de sua conservação a fim de desenvolver um mercado para cada serviço da natureza específico. Para a “Economia Verde” os instrumentos do mercado são poderosas ferramentas para gerir a “invisibilidade econômica da natureza”.
9. Os principais alvos da “Economia Verde” são os países em desenvolvimento, onde se encontra a biodiversidade mais rica. O “draft zero” até mesmo reconhece que uma nova rodada de “ajustes estruturais” será necessária: “países em desenvolvimento estão enfrentando grandes desafios para erradicar a pobreza e manter o crescimento, e uma transição para uma economia verde irá requerer ajustes estruturais que podem envolver custos adicionais para suas economias…”.
10. Mas a “Economia Verde” não é uma ficção do futuro: ela já está aqui. Como afirma o “draft zero”, “Nós apoiamos estruturas políticas e instrumentos de mercado que efetivamente diminuam, parem e revertam o desmatamento e degradação das florestas”. Esta passagem está se referindo ao REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), uma iniciativa da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) que consiste em isolar e medir a capacidade das florestas de capturar e armazenar dióxido de carbono a fim de emitir certificados de redução das emissões de gases de efeito estufa que podem ser comercializados e adquiridos por empresas em países em desenvolvimento que não conseguem cumprir seus compromissos de redução das emissões. Mas nós já vimos que o mercado de créditos de carbono baseado nas florestas irá levar: a) à falta de comprometimento com os acordos de redução efetiva das emissões pelos países desenvolvidos; b) ao aumento da apropriação de recursos por intermediários e entidades financeiras que raramente beneficiam países, populações indígenas e as próprias florestas; c) à geração de bolhas especulativas baseadas na compra e venda dos certificados mencionados, e; d) ao estabelecimento de novos direitos de propriedade sobre a capacidade das florestas de capturar dióxido de carbono, que irá colidir com os direitos soberanos dos Estados e dos povos indígenas que vivem nas florestas.
11. Os postulados promovidos sob a designação de “Economia Verde” estão errados. A atual crise ambiental e climática não é simplesmente uma falha de mercado. A solução não é colocar um preço na natureza. A natureza não é uma forma do capital. É errôneo dizer que só valorizamos aquilo que tem preço, um dono e que traz lucros. Os mecanismos de mercado que permitem trocas entre seres humanos e nações se mostraram incapazes de contribuir para uma distribuição equitativa da riqueza. O maior desafio para a erradicação da pobreza não é crescer eternamente, mas alcançar uma distribuição equitativa da riqueza que seja possível dentro dos limites do sistema Terra. Em um mundo no qual 1% da população controla 50% da riqueza do planeta não será possível erradicar a pobreza nem restaurar a harmonia com a natureza.
12. A agenda da “Economia Verde” é uma manipulação cínica e oportunista das crises ecológica e social. Ao invés de enfrentar as verdadeiras causas estruturais das desigualdades e injustiças, o capital está usando a linguagem “verde” para lançar uma nova e agressiva rodada de expansão. As corporações e o setor financeiro precisam dos governos para institucionalizar novas regras da “Economia Verde” que os protejam contra riscos e para criar um quadro institucional para a financeirização da natureza. Muitos governos são parceiros ativos nesse projeto por acreditarem que isso irá estimular uma nova fase de crescimento e acumulação.
13. De fato, a “Economia Verde” é o novo Consenso de Washington que está para ser lançada na Rio+20 como o próximo estágio do capitalismo para recuperar o crescimento e lucros perdidos. Esse definitivamente não é o futuro que NÓS queremos.

Fonte

http://rio20.net/pt-br. Acesso em 22/06/2012